Wednesday, April 14, 2010

The bloody chamber

The Bloody Chamber

and other stories

Angela Carter

Penguin Books Ltd

Pages: 128


Apesar de o livro conter mais do que o conto que serve de título à obra, irei somente analisar o conto “The Bloody Chamber” numa exposição talvez um pouco confusa para aqueles que ainda não leram. Adianto que a pesquisa e a meditação em torno deste conto foi bastante aprofundada, por isso algumas teorias e opiniões que irei apresentar não deverão ser recebidas como rebuscadas ou fruto de uma imaginação muito fértil.

Angela Carter escreveu ou melhor reescreveu vários contos de fadas entre eles “Puss in boots”, “Little Red riding hood” e “Bluebeard”. Angela Carter focou nos seus contos o grotesco, o papel da mãe e da mulher e sobretudo a vertente pornográfica/ erótica. O conto “The Bloody Chamber” sendo uma reescrita do conto do escritor frânces Charles Pierrault “ engloba estes temas e outros.

Para quem já conhece o conto original existem algumas alterações fundamentais: primeiro existe uma terceira personagem, um moço de recados cego, que vem a ser uma das personagens com mais influência no final, segundo não são os irmãos que salvam a personagem principal, mas a mãe e por último o próprio fim acaba por divergir um pouco do original.

Sentimos logo de inicio que a personagem feminina é uma pessoa algo “corrupta”, visto que se casou com o marquês pelo seu estatuto social, embora proclame que o ama. Chegadas ao castelo onde vão passar a lua-de-mel e tomando conhecimento que o seu marido teve outras mulheres, que usavam um anel, abre-se uma nova porta na vida do marquês “every bride that came to the castle wore it, time out of mind. And did he give it to his other wives and have it back from them? asked the old woman rudely; yet she was a snob. O marquês for a casado três vezes, sendo a protagonista a sua quarta mulher. O anel e o colar de rubis representam não só a paixão e o poder que o Marquês exerce sobre a protagonista, como também é o símbolo do seu destino e o das outras mulheres. Existe sempre uma fronteira entre o pavor que a narradora sente, mas também o fascínio pela riqueza e luxúria que o marido lhe poderia oferecer. He made me put on my choker, the family heirloom of one woman who had escaped the blade. With trembling fingers, I fastened the thing about my neck. It was cold as ice and chilled me.” A protagonista consegue quando está com o colar sentir a morte cada vez a aproximar-se dela, sem se aperceber que o destino de todas as mulheres que usarem o colar será o da dona original: a morte. A personalidade sádica e perversa do marquês evidencia-se através do voyerismo “Our bed. And surrounded by so many mirrors! Mirrors on all the walls” e de uma possível colecção de pornografia “Have the nasty pictures scared Baby? Baby mustn't play with grownups' toys until she's learned how to handle them, must she?” Através dos espelhos o marquês consegue intimidar a mulher, contemplando-a como um objecto, mas sem esta poder retribuir. Yet I had been infinitely dishevelled by the loss of my virginity. I gathered myself together (…)” A protagonista é aniquilada como mulher, renascendo na mesma cama que o seu marido nasceu para ser sua mulher inteiramente. Porém esta não é inteiramente livre de culpa, ela própria admite a sua culpa de se ter deixado seduzir pela luxúria. O objectivo, digamos assim, de Carter seria mostrar uma certa supremacia do homem face à mulher a nível económico.

Quando o marido é forçado a deixar a lua-de-mel em negócios e seguindo fielmente a linha original a protagonista fica em casa sozinha com um molhe de chaves, cuja mais pequena não deve nunca ser usada. Uma das advertências principais do conto de Perraults era dirigida aos maridos, para que não fizessem pedidos impossíveis de realizar às suas mulheres. Embora a chave represente uma armadilha para a jovem esposa I did not believe one word of it. I knew I had behaved exactly according to his desires; had he not bought me so that I should do so?”, o marquês sabe que ela irá fraquejar e descobrir a câmara secreta para depois se juntar às outras mulheres. O rio de sangue no qual as chaves caem, é o espelho do seu futuro, mas também indica que todas as mulheres perderam a virgindade com o marquês, dando pelo menos às três acesso directo à morte. Essas duas marcas (a perda da virgindade e o sangue na chave) nunca irão desaparecer, servindo como provas para a sua sentença dada pelo marquês no dia em que regressa 'My virgin of the arpeggios, prepare yourself for martyrdom.' 'What form shall it take?' I said. 'Decapitation,' he whispered, almost voluptuously.” Facto curioso este ritual de morte que evidencia não só o sadismo do marido, como também este parece ter traços de vampiro: “'My little love, you'll never know how much I hate daylight!”, “And he kissed those blazing rubies.”, a própria cara do marquês é extremamente branca. Sendo os vampiros seres sexuais e com bastante encanto a narradora não é mais que uma presa. Será a mãe quem a libertará das garras do marido, restituindo uma vida normal à filha. A imagem da mãe em “The Bloody Chamber” e em vários outros contos é uma mistura de homem e mulher. A mãe mata o marquês, quando entra, no seu cavalo, pelo pátio do castelo evitando a morte da filha. Ao contrário da filha a mãe não consegue ser corrompida e é na verdade uma personagem independente. Cabe à mãe o papel de não só salvar a filha, como restituir uma vida calma com uma terceira personagem masculina: Jean-Yves, um pobre afinador de pianos cego, que também sofre de alguns estereótipos machistas. No fim do conto temos uma importante marca de intertextualidade com a obra de Charlotte Brontë “Jane Eyre”. O contraste entre as duas personagens masculinas será mais evidenciado através da cegueira. Ambos precisam do apoio das mulheres para estas se sentirem úteis e não submissas, e no caso de “The Bloody Chamber” a cegueira pode significar impotência sexual, levando a crer que esta impotência nada mais será do que um amadurecimento da personagem principal, que não precisa mais do masoquismo.

Monday, April 12, 2010

Annemarie Schwarzenbach: exposições e livros



Para quem gosta de ler existe sempre um punhado de autores que nos marcam, mesmo sem termos à partida aquele sentimento de identificação para com os heróis das nossas histórias favoritas. Uma razão pela qual a saga "Twilight" tem inúmeros fãs será graças à personagem masculina de Edward, que é considerado para muitas uma espécie de príncipe encantado moderno.

O que mais me atraiu em Annemarie Schwarzenbach, mesmo antes de pegar na sua obra, foi o seu ar triste e melancólico, a sua pose depressiva e desiludida sobretudo com a vida. Os seus olhos, postados para o infinito, à procura de algo, nem ela, nem nós sabemos o que andamos à procura neste mundo, mas carregam sobretudo as memórias de vários países, de várias pessoas e de várias culturas.

Annemarie Schwarzenbach viajou pelo Médio Oriente, Europa, América e África em fuga da ascensão do nazismo e da sua Alemanha que já não reconhecia. Parte à procura do exotismo prometido no imaginário das "Mil e uma noites" e encontra uma Pérsia quente, sufocante, árida demais para servir de consolo ao seu espírito. O amor parece não ter em vista um final feliz, já que a sua amada Halé encontra-se gravemente doente e acaba por falecer enquanto Annemarie Schwarzenbach encontra-se doente.



A malária, a dependência da morfina, o sentimento de culpa de ter abandonado Halé quando ela mais precisava carregam a consciência de Annemarie Schwarzenbach que parece sempre escapar de um sitio para o outro, fotografando o mundo no seu estado caótico. A maquina fotográfica aparece como espelho da sua própria vida em ruínas. Faleceu aos 34 anos numa queda de bicicleta, na qual resultou uma hemorragia interna, contudo a causa da morte fora constituída como esquizofrenia.

Como vêm não existe nenhuma heroína possível nos livros da jornalista e quem lê os livros, estes assemelham-se a diários ou pequenas confissões difusas. O que existe de tão precioso em Annemarie Schwarzenbach? A linguagem é cuidada, algo que não é comum nos livros de viagens; a fronteira ténue entre o pessoal e o exterior. Annemarie Schwarzenbach tende a divagar e a diminuir essa linha entre a descrição do exterior (montanhas, pessoas, sítios) para exteriorizar os seus pensamentos. E o facto de termos conhecimento que de facto aquele livro não é nenhum história ficcional, que de facto a Halé morreu, que Annemarie tentou suicidar-se, que Annemarie nunca mais voltaria ser a mesma, mexe com o leitor.

Da obra de Annemarie Schwarzenbach sobressai a figura do anjo, as descrições belíssimas do Médio Oriente e uma vida que se perdeu demasiado cedo. A escritora foi redescoberta nos anos 80.

Livros:
Tod im Persien | Morte na Pérsia | Tinta da China: 16€95
Lyrische Novelle | Novela lírica | Granito Editores: 10€97
Das glückliches Tal | Lenos Verlag
Flucht nach oben | Lenos Verlag
Eine Frau zu sehen | Kein + Aber

Exposições:
Até 25 de Abril de 2010 | CCB : Auto-retratos do Mundo | Colecção Berardo

Filmes:
Die Reise nach Kafiristan | Donatello Dubini | Fosco Dubini | 2001




Saturday, April 10, 2010

Feira do livro FNAC


Melhor que saldos de roupa, só mesmo saldos de livros.
A lista dos mais apetecíveis:
  • Kafka à beira-mar: Haruki Murakami - 12€60
  • Cem anos de solidão: Gabriel García Marquéz - 10€50
  • Ernest Hemingway (5€ cada)
  • From Whom the bells tolls
  • A Farewell to arms
  • Fiesta the sun also rises
  • The old man and the sea
  • To have and have not
  • Green Hills of Africa
  • The Observations: Jane Harris - 5€
  • The Night Watch: Sarah Waters - 5€
  • Cemitério de Pianos: José Luis Peixoto - 16€75
Tive o cuidado de assinalar a laranja aqueles que já li e recomento altamente. Especialmente os livros do Hemingway, que são brilhantes.

Wednesday, April 7, 2010

Fanny Hill

Fanny Hill
or Memoirs of a woman of pleasure
John Cleland
Penguin Books Ldt.
Pages: 224
Preço: 2€19

(SEM CLASSIFICAÇÃO)

Após quatro anos a estudar literatura deparei-me com uma obra, cuja classificação parece-me impossível de atribuir. É um livro muito bom, digno de ser chamado um clássico, que me chocou não pelo seu conteúdo, mas sim pela recepção da obra no tempo que foi escrita. Escrito em 1784, enquanto Cleland encontrava-se preso por dívidas. Considerado um dos principais livros eróticos e o primeiro exemplar erótico do período moderno (não confundir com contemporâneo). Confesso que a minha review será um pouco confusa, devido ao estilo não me ser familiar. Depois de ler o "Decameron" também um exemplar fortemente erotizado, o livro é simples, bem escrito, com descrições que nunca caem no ridículo. Se em português podemos considerar que escrever algo erótico pode ser um pesadelo para não cair no ordinário, Cleland capta o leitor com a variedade de situações que a jovem Fanny se depara. O livro peca somente por ser repetitivo em algumas cenas de sexo, onde Fanny mantêm a sua obsessão por homens prendados ”I saw, with wonder and surprise, what? not the play-thing of a boy, not the weapon of a man, but amaypole of so enormous a standard, that had proportions been observed, it must have belonged to a young giant. Its prodigious size made me shrink again; yet I could not, without pleasure, behold, and even ventured to feel, such a length, such a breadth of animated ivory! " Quando as três prostitutas: Emily, Harriet e Louisa descrevem como perderam a virgindade, embora em situações diferentes, as descrições acabaram por ser semelhantes.

"(Emily) I was far from disrelishing, he got upon me, and inserting one of his tights between mine to his purpose; whilst I was so much out of my usual sense, so subdued by the present power of a new one that, between fear and desire, I lay utterly passive, till the piercing pain roused and made me cry out." -

"(Harriet) I had a glimpse of that instrument of the mischief which was now, obviously even to me, who had scarce had snatches of a comparative observation of it, resuming its capacity to renew it, and grew greatly alarming with its increasing of size, as he bore it no doubt designedly, hard and stiff against one of my hands carelessly dropped; but then he employed such tender prefacing, such winning progressions, that my returning passion of desire being now so strongly prompted by the engaging circumstances of the sight and incendiary touch of his naked glowing beauties, I yield at length at the force of the present impressions and he obtained by my tacit blushing consent all the gratifications of pleasure left in power (...) -

"(Louisa) I gazed at, I devoured it, till his getting upon me, and placing himself between my tights, took from me the enjoyment of its sight, to give me a far more grateful one in its touch, in that part where its touch is so exquisitely affecting."

O livro engloba critica social, com uma ironia mordaz, que ajuda a "desenjoar" das cenas de sexo. Entre cenas de homossexualidade, orgias, sadomasoquismo e voyerismo, Fanny Hill consegue atingir harmonia entre o prazer do sexo com o amor, após dois anos marcados por uma vida libertina.

Vale a pena ler, é um livro bonito, nem tanto pelas personagens, mas mais pelas situações que deparam. Quando tiver oportunidade tentarei ler algo de Cleland.

Saturday, April 3, 2010

Páscoa


Apesar de não ser religiosa, acredito que estas festas servem para:

- uma pausa para rever as matérias dadas na faculdade;
- rever a família
- comer até não puder mais
- receber presentinhos e dar
- receber a visita do coelhinho :3

Por isso feliz Páscoa :)


Friday, April 2, 2010

O amor nos tempos de cólera

O amor nos tempos de cólera
Gabriel García Márquez
Editora: Dom Quixote
Prémio Nobel 1982
ISBN: 9789722000321
Preço: 17€75


Primeiro gostaria de referir que escolhi deste livro após ter lido opiniões bastante favoráveis como: "uma história de amor inesquecível", "fabuloso" e ainda "um dos melhores livros que já li". Tentada a ler esta obra-prima esperei três meses até a conseguir requisitar na biblioteca da minha faculdade, pois como vêm o preço não é nada barato e ler espanhol traduzido em inglês talvez não fosse a melhor ideia. Acrescento que este livro veio depois da leitura de "Pride and prejudice" também um livro muito romântico.

"O amor nos tempos de cólera" narra o amor obsessivo de Florentino Ariza por Fermina Daza, e esquece-se de falar dos sentimentos desta. A narrativa tem muito pouco de emocional, o que me leva a crer que fora apelidada de mais romântica devido ao que está por detrás da história, do que propriamente ao fio narrativo. As personagens são interessantes e talvez o único motivo pelo qual continuei a ler. Florentino Ariza é um homem, que mais parece um fantasma ou uma sombra. Vive obcecado com Fermina a partir do momento em que entrega ao pai um telegrama e desde então espera-a sempre no caminho para o colégio para vê-la. Escreve mais de cinquenta cartas de amor a declarar a sua paixão, mas a mãe desencoraja-o a entregá-las, já que parecia mais um livro do que uma declaração de amor. Quando consegue finalmente entregar, Florentino começa a ter sintomas de cólera (sintoma este de amor e não de cólera). Referi no inicio que a narrativa tinha muito pouco de romântico, já que sabemos que as personagens estão apaixonadas não pelo que dizem, ou pelos gestos mas pelos sintomas de cólera que apresentam. Durante a história somente Florentino e Fermina possuem tais sintomas. Por oposição do pai Fermina ao casamento dela com Florentino, um Zé-ninguém, que não merece o diamante que é a sua filha, leva-a até à sua prima Hildebranda, mas esta torna-se a segunda confidente de Fermina e da sua correspondência com Florentino. De regresso à cidade Fermina apresenta sintomas de cólera após rejeitar Florentino, alegando que o seu romance não era nada mais que uma ilusão e casa-se com o doutor Juvenal Urbino. É um casamento de fachada, para ela subir de estatuto, o que leva uma poetisa a chamá-la de “prostituta” e leva também o leitor a pensar quais os motivos que levaram-na a rejeitar Florentino. Florentino consegue desenvolver a sua personalidade de perseguidor para um ninfomaníaco obsessivo, que “fornica” com várias viúvas, mulheres casadas e com a sua sobrinha, vinte anos mais nova. O sexo é a sua grande consolação para a não correspondência de Fermina, e Florentino atribuiu esse sucesso entre as mulheres ao seu ar de pobre que sofre de amores. Enquanto Florentino viaja por entre as mulheres, Fermina e Juvenal vivem um casamento atribulado, marcado por viagens que são muitas vezes a salvação deste. Fermina é uma mulher de contrastes: independente, sofisticada, mas é também vítima da rotina diária, e com o tempo nota que torna-se cada vez mais afável com o marido pelo facto de meter o sabonete ou reparar as camisas deste. Juvenal é um homem frio, isolado nos seus livros e na sua música, mas fraco e religioso tornando-se o oposto de Fermina.

O que mais aprecio na narrativa de Gabriel García Márquez é a capacidade de construir um romance em que as personagens conseguem sempre amar em velhos. Existe sempre um equilíbrio entre pessoas jovens e já velhas, no entanto não significa que a idade seja uma barreira. Pelo contrário. O fim é extremamente belo e romântico e faz-nos sonhar com um amor que dure tanto tempo. Ao contrário do que Ofélia (filha de Fermina e Juvenal) pensa, o amor entre duas pessoas já idosas não é algo nojento, mas sim puro e belo. “O amor nos tempos de cólera” fica com um registo positivo do autor, sem grandes excessos, nem grandes gracejos.

Thursday, March 25, 2010

Pride and prejudice

Pride and Prejudice
Jane Austen
Editora:
Longman: the heritage of literature series


Jane Austen iniciou a escrita de “Pride and Prejudice” em 1796, a que deu o nome inicialmente de “First impressions”. Apesar de ter sido inicialmente recusado, fora publicado em Janeiro de 1813 sendo o seu segundo livro a ser publicado, a seguir de “Sense and sensibility”. Jane Austen serve-se de uma história de amor para satirizar as classes sociais superiores, mas também inferiores. “Pride and prejudice” não é só a história de amor (quase impossível) entre Elizabeth Bennet e Mr. Darcy. Existe um leque de personagens, em que cada representa um estereótipo da sua classe: Mr. Collins tem uma relação de amizade com Lady de Bourgh, apesar do seu nível social inferior; a família Bennet relaciona-se com a família Bingley e com mr. Darcy apesar de serem “middle class”. Mrs. Bennet é uma personagem satirizada pelos seus comportamentos; o seu maior sonho é ver as cinco filhas casadas e quando esse desejo realiza-se não sabe quais dos genros são mais bonitos e ricos. Quando Lydia casa com Wickham, Mrs. Bennet espalha a notícia que a sua filha mais nova vai casar aos dezasseis anos. Contudo Elizabeth é a única que entende a tragédia da união da sua irmã com um homem hipócrita. Quando Jane aceita o pedido de casamento de Mr. Bingley, Mrs. Bennet não pensa na possível felicidade da filha, mas sim nos dez mil de rendimento que o futuro genro possui. Da mesma maneira Charlotte Lucas aceita o pedido de casamento de Mr. Collins, após ser recusado por Elizabeth, conferindo assim a ascensão social em troca do amor. Jane e Elizabeth são os dois exemplos de que o amor pode ultrapassar as diferenças sociais. O fim é sem dúvida feliz e cor-de-rosa, o que nos leva a pensar como seria se Lydia não tivesse casado com Wickham e tivesse manchado o nome da família. Honra e reputação são dois factores que tanto são satirizados, como levados a sério. Se Lydia não tivesse fugido com Wickham, o relacionamento de mr. Darcy com Elizabeth seria impossível, devido à mancha que os Bennet teriam de suportar. Mr. Darcy consegue, com sucesso, emendar os erros, para que a ponte da felicidade e do matrimónio se estabelecesse entre ele e Elizabeth. Esta quebra na harmonia será o único símbolo de perigo e ameaça presente em todo o livro. Se o leitor não se apercebe pelas lágrimas de Elizabeth, que a sua heroína está prestes a ser eliminada pela sociedade, Lydia tem, por sinal, o dom de conseguir afastar-se da sociedade de classes e honra. Ao fugir com Wickham, consegue libertar-se, por algum tempo deste sistema, enquanto Elizabeth e Jane sabem que para serem felizes têm de se manter fiel às regras da sociedade.

A relação de amor-ódio-orgulho entre mr. Darcy e Elizabeth será melhor caracterizada através das viagens. Sabemos que as viagens têm sempre um papel fulcral em toda a literatura e raras são as obras em que as viagens não estão presentes. Elizabeth, Jane e Lydia viajam durante o romance, mas são as viagens de Elizabeth que contribuem para o desenvolvimento da história. Na sua viagem até à casa de mr. Collins, mr. Darcy aparece e pede-a em casamento; na segunda viagem até Pemberley, os seus sentimentos por mr. Darcy começam a mudar e Elizabeth acha-o menos orgulhoso e mais natural, aliando a propriedade de Pemberley (calma) com a personalidade de Darcy e por último, a terceira viagem é marcada pelo encontro de mr. Darcy com Lydia.

Apesar de durante muito tempo “Pride and Prejduice” ter sido encarado como uma obra menor, o realismo e a crítica social aliada às duas histórias de amor revelam que “Pride and Prejudice” merece estar ao lado de outros livros pertencentes ao cânone literário. Jane Austen será uma leitura perfeita para quem gosta de finais felizes, sem superficialidades. Mais tarde Charlotte Brontë, com a sua personagem feminina Jane Eyre, conseguiria prender os leitores com o mesmo realismo e crítica.