Friday, January 29, 2010

Caim

Caim
José Saramago
Editora: Caminho
Páginas: 182



"A história dos homens é a história dos seus desentendimentos com deus, nem ele nos entende a nós, nem nós o entendemos a ele"

Numa pequena grande obra, Saramago regressa à origem do mundo logo após deus ter criado Adão e Eva. Andavam eles felizes no jardim do Éden despreocupados, que a vida lhes corria bem até que Eva deu a Adão a provar o fruto proibido irritando deus, que incapaz de perdoar o erro de Adão e Eva, expulsa-os do Paraíso, condenando-os à fome e a Eva, sendo a principal culpada da desgraça do casal, condena-a a ser sempre submissa ao marido e a parir entre dores. Quando Adão e Eva vêm-se fora do Paraíso, a terra não é nada mais que areia e um sol abrasador que queima a pele. Sem nada para comer e famintos Eva enfrenta o marido e vai sem ele até ao porteiro do Éden, um anjo, e pede-lhes alguma comida. o Deus de Saramago é cruel, no entanto os anjos são as únicas criaturas que apresentam características boas, como a compaixão. O anjo dá-lhe algumas frutas do jardim e indica uma caravana que passa por vezes pelo deserto. Adão e Eva conseguem chegar à civilização e começam a viver como as outras pessoas; filhos de Deus somos todos, mas Adão e Eva seriam os primeiros. Adão e Eva têm três filhos: Abel, Caim e Set. Abel dedica-se à pecuária, enquanto Caim dedica-se à agricultura. Chega a altura dos sacrifícios e dádivas a deus e Abel sacrifica uma ovelha, enquanto Caim oferece as suas colheitas. Quando o fumo sobe, a oferta de Abel é aceite e a de Caim recusada. Abel goza o irmão pelo sucedido e um dia enfurecido Caim mata o irmão, sendo conhecido pelo primeiro crime da humanidade. Deus aparece e castiga Caim com uma marca na testa, símbolo do seu crime, mas também da protecção de deus, visto que se deus tivesse aceite a oferenda humilde de Caim, este não teria morto o seu irmão. Condenando a viver uma vida de errante Caim parte adoptando o nome de seu irmão Abel e pára na terra de Nod, onde conhece Lilith, a dona do palácio e da cidade, conhecida por ser a perdição de muitos homens. Mas Caim ciente da sua maldição saberá que terá de viajar sempre sem destino concreto e sem motivo, testemunhando a crueldade de Deus, a pergunta principal não é "Que Deus é este que para enaltecer Abel despreza Caim?", mas que deus é este presente na bíblia que sacrifica crianças inocentes, como consequência da sua ira? que deus é este, que para provar a fé de um pai, pede-lhe para sacrificar o próprio filho Isaac? Caim é apenas um condenado por ver o que as outras pessoas não vêem: a maldade de deus.

É um livro bom, rápido de ler e importante para reflectir. O fim é simplesmente delicioso.

Friday, January 22, 2010

Memorial do Convento

Memorial do Convento
José Saramago
Editora: Caminho
Páginas: 358
Preço: 14€85



"Era uma vez um rei que fez promessas de levantar um convento em Mafra... Era uma vez a gente que construiu esse convento... Era uma vez um soldado maneta e uma mulher que tinha poderes... Era uma vez um padre que queria voar e morreu doido"

Era uma vez um escritor que apesar de ser muito criticado por algumas das suas obras, não deixa de ser um dos autores mais brilhantes de sempre; era uma vez um livro que apresenta uma denúncia das injustiças sociais e políticas; era uma vez uma leitora que se arrependeu profundamente de não ter lido este livro no seu 12º ano, pois teria entendido muito melhor esta obra do que a Aparição.

"Memorial do Convento" é um hino ao povo, uma epopeia dos pobres, que vivem na miséria, trabalhando como escravos; uma crítica à falsa moral e religião do clero; uma anedota da política portuguesa, que para além de incompetente, é mesquinha, mas sempre generosa com o dinheiro que não possui. Esta é a história do Convento de Mafra e das vidas que se gastaram para o construir, mas é também a história da transcendência do ser humano, que sempre ambicionando o céu, sonha em voar, em ser como um pássaro livre dos vícios da terra, alcançando a terra de Deus. As almas e as vontades, símbolos dos sonhos que cada um traz dentro de si, servem como principal instrumento para a passarola poder voar. Sem os sonhos, é impossível para o ser humano trascender. Baltasar Séte-sóis, Blimunda Sete-Luas e padre Francisco Bartolomeu Gusmão são as três personagens, elementos que constituem a Santíssima Trindade, sendo Bartolomeu o pai, Baltasar o filho e Blimunda o espírito santo, que dão inicio, continuidade e fim à história. O estilo de Saramago está no seu melhor, carregado de ironia, metáforas e críticas, denunciando os vícios da igreja, que através dos autos-de-fé mata como fossem touros atrás das pombas, inocentes e puras.

Monday, January 11, 2010

O filho das sombras

O filho das sombras
2º livro de Sevenwaters
Juliet Marillier
Páginas: 464
Preço: 17€06



Após a leitura de "A filha da floresta" sabia que o segundo livro da trilogia de Sevenwaters não iria seguir o mesmo caminho narrativa que o primeiro, ou seja peguei no "Filho das sombras" com a noção que não seria mais um conto de fada adaptado. Existem semelhanças salientes entre os dois livros: a maneira pouco ortodoxa como Sorcha (F. F) encontra os bretões e a maneira como Liadan é raptada por o bando do "Homem Pintado". Ambas são curandeiras não fosse Liadan a filha de Sorcha e Red e possuem ambas o dom de comunicar com os seus irmãos sem dizer uma única palavra. Sorcha teve três filhos com Red: Sean, Liadan (irmãos gémeos) e Niahm. Já só restam três irmãos: Liam, Conor e Finbar e o equilíbrio em Sevenwaters ameaça ser quebrado. As alianças tentam ser reforçadas através dos casamentos das mulheres: Niahm após uma relação proibida com o aprendiz de druida Ciarán é forçada a casar com Fionn, filho de Uí Néill. A união apaga por completo a chama de Niahm, sofrendo a exclusão por parte da família e também do marido que a maltrata tanto verbalmente como fisicamente. Mas o amor persegue também Liadan e Eamonn, um poderoso aliado de Sevenwaters, pede-a em casamento. Liadan não se sente preparada e pede um ano para lhe dar a reposta definitiva. Famosa por ser curandeira, uma noite uma senhora pede ajuda com o filho e Liadan acede ao pedido, quando chegam a casa Liadan é raptada pelo bando do "Homem Pintado" para salvar um ferreiro, Evan. Liadan tenta tudo, contudo avisa que Evan terá de perder o braço. Habituada ao amor em sua casa, Liadan aprende como a mente de um guerreiro funciona: como a vida pode ser cruel, e como nem todos a tratam com carinho. Apesar das maneiras rudes do "Homem Pintado" Liadam apaixona-se por ele e promete que nunca mais vai ter outro homem na vida. Bran (alcunha dada por Liadan) pede-lhe para não casar com Eamonn.

Gostei mais do que o primeiro, Juliet Marillier não perdeu o jeito, continua uma grande contadora de histórias através das suas personagens e estas sofrem alterações durante a narrativa. Agora vou ter de ler o resto da saga em inglês, o que de certa maneira acho que vai fazer apreciar ainda mais a história, visto que houve coisas que me irritaram na tradução.
Comecei a ler a trilogia de Sevenwaters para ver se gostaria da escrita da autora de modo a não meter o pé na poça ao comprar o "Wildwood dancing" mas tem vindo a surpreender.

Saturday, January 9, 2010

Cemitério de pianos

Cemitério de pianos
José Luís Peixoto
Editora: Bertrand
Data de lançamento: 2006
Páginas: 315
Preço: 15€



Apesar de ter iniciado a leitura deste livro com algumas reservas, disseram-me que José Luís Peixoto era um escritor muito bom, que mexia extremamente bem com os sentimentos. Pois bem, sendo "Cemitério de pianos" o primeiro livro que li dele devo dizer antes de mais que este livro é um murro no estômago, uma bofetada na cara e que por vezes esgana a nossa alma até perdermos a respiração. O livro conta a história de Francisco Lázaro (um atleta português) e da sua família: do seu pai que morreu, da mãe, das irmãs Marta e Maria, do seu irmão Simão e das(o) sobrinhas(o), todos unidos pelo cemitério de pianos da oficina do pai. A mudança do narrador e até do estilo narrativa apesar de por vezes ser um pouco confuso acaba por adicionar um quê de maravilhoso no livro. O estilo poético esbarra com os acontecimentos trágicos e pesados da narrativa. As personagens são extremamente humanas e há sempre uma condição trágica em cada uma delas. Os homens contrastam entre a personalidade violenta e a personalidade dócil, as mulheres submetem-se ao silêncio muitas vezes tentando lutar com o pouco que têm. As crianças, inocentes, são as únicas que ainda conseguem trazer harmonia e paz à destruição. Um livro vertiginoso para ler com muita calma e atenção. Irei pegar em mais livros do José Luís Peixoto agora que sei que o autor merece toda a minha atenção e dinheiro. Provavelmente o próximo será "Morrestes-me".

José Luís Peixoto é um escritor e dramaturgo português licenciado em Línguas e Literaturas Modernas (Inglês e Alemão) pela Universidade Nova de Lisboa. Escreveu entre outras obras "Cemitério de pianos", "Uma casa na escuridão"" e "Morrestes-me" dedicado ao seu pai após a morte deste.

Tuesday, January 5, 2010

Dead until dark: there are still bad vampires

Dead Until Dark
Charlaine Harris
Editora: Ace Books
Data de lançamento: 1 Maio 2001
Páginas: 292
Preço: 6€75



Após a invasão de Twilight e da multiplicidade de livros pseudo-vampirescos decidi que não ia ler mais nenhum livro sobre vampiros, pois se a maior parte das sinopses que eu lia era sobre vampiros bonzinhos ou vampiros com adolescentes o trauma do Twilight ainda estava fresco. O "Dead until dark" não foi uma compra prevista, foi uma compra de impulso destinada à minha prateleira até o hype dos vampiros ter passado. Como a leitura do "Cemitério de pianos" estava a revelar-se pesada e o facto de estar a dedicar-me 100% a cultura e literatura medieval alemã precisava de algo light para ler antes de ir para a cama.

Sookie Stockhouse é uma empregada de bar em Bon Temps com uma habilidade peculiar: consegue ouvir os pensamentos das pessoas, o que leva muita gente a pensar que ela é doida ou estranha. Por vezes só aparecem imagens outras vezes ela consegue ouvir. Mas nem sempre ela usa esta habilidade, a ética leva-a a nunca ouvir os pensamentos da avó, do patrão, das colegas de trabalho... Outro factor distinto nesta história é o facto de os vampiros serem aceites (dentro dos possíveis) na nossa sociedade. Cientistas conseguiram criar sangue sintético que substitui ás vezes o sangue de humanos. É então que Bill Compton, o primeiro vampiro de Bon Temps chega ao bar de Sookie e pede uma garrafa de vinho já que não havia "tru blood". Duas pessoas falam com o vampiro recém-chegado, os Rattrays e Sookie houve os seus pensamentos tomando conhecimento que ambos são "blood drainers" - pessoas que tiram sangue de vampiros para vende-lo no mercado negro. Sookie tenta avisar Bill mas quando volta os três tinham desaparecido. Sookie decide ir à procura do vampiro e encontra os Rattrays a tirarem sangue e luta contra eles (dentro dos possíveis) Bill fica assim em dívida para com Sookie e nasce uma estranha amizade entre os dois. Entretanto uma série de assassinatos destabilizam Bon Temps e os inexperientes policias suspeitam de Bill.

As personagens são verídicas dentro da normalidade. Esqueçam o "Twilight", em "Dead Until Dark" os vampiros são sexys (parecem coelhos por vezes), assustadores e por vezes maus e outras vezes conseguem controlar os seus instintos. É acima de tudo um livro para adultos com uma dosagem equilibrada de tudo. Tal como nós, breathable beings, também temos os nossos dias maus e dias bons. A relação entre Bill e Sookie é algo realizavel: têm problemas, momentos felizes, discussões tudo o que vivemos no nosso dia-a-dia mas com vampiros. A escrita é simples mas nem por isso deixa de ser menos boa, o ritmo é moderado, não acho que seja um page-turner. É um policial com vampiros que cumpre bem a sua função.

Sexta irei comprar o segundo da saga.