"Era uma vez um rei que fez promessas de levantar um convento em Mafra... Era uma vez a gente que construiu esse convento... Era uma vez um soldado maneta e uma mulher que tinha poderes... Era uma vez um padre que queria voar e morreu doido"
Era uma vez um escritor que apesar de ser muito criticado por algumas das suas obras, não deixa de ser um dos autores mais brilhantes de sempre; era uma vez um livro que apresenta uma denúncia das injustiças sociais e políticas; era uma vez uma leitora que se arrependeu profundamente de não ter lido este livro no seu 12º ano, pois teria entendido muito melhor esta obra do que a Aparição.
"Memorial do Convento" é um hino ao povo, uma epopeia dos pobres, que vivem na miséria, trabalhando como escravos; uma crítica à falsa moral e religião do clero; uma anedota da política portuguesa, que para além de incompetente, é mesquinha, mas sempre generosa com o dinheiro que não possui. Esta é a história do Convento de Mafra e das vidas que se gastaram para o construir, mas é também a história da transcendência do ser humano, que sempre ambicionando o céu, sonha em voar, em ser como um pássaro livre dos vícios da terra, alcançando a terra de Deus. As almas e as vontades, símbolos dos sonhos que cada um traz dentro de si, servem como principal instrumento para a passarola poder voar. Sem os sonhos, é impossível para o ser humano trascender. Baltasar Séte-sóis, Blimunda Sete-Luas e padre Francisco Bartolomeu Gusmão são as três personagens, elementos que constituem a Santíssima Trindade, sendo Bartolomeu o pai, Baltasar o filho e Blimunda o espírito santo, que dão inicio, continuidade e fim à história. O estilo de Saramago está no seu melhor, carregado de ironia, metáforas e críticas, denunciando os vícios da igreja, que através dos autos-de-fé mata como fossem touros atrás das pombas, inocentes e puras.
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