Wednesday, April 14, 2010

The bloody chamber

The Bloody Chamber

and other stories

Angela Carter

Penguin Books Ltd

Pages: 128


Apesar de o livro conter mais do que o conto que serve de título à obra, irei somente analisar o conto “The Bloody Chamber” numa exposição talvez um pouco confusa para aqueles que ainda não leram. Adianto que a pesquisa e a meditação em torno deste conto foi bastante aprofundada, por isso algumas teorias e opiniões que irei apresentar não deverão ser recebidas como rebuscadas ou fruto de uma imaginação muito fértil.

Angela Carter escreveu ou melhor reescreveu vários contos de fadas entre eles “Puss in boots”, “Little Red riding hood” e “Bluebeard”. Angela Carter focou nos seus contos o grotesco, o papel da mãe e da mulher e sobretudo a vertente pornográfica/ erótica. O conto “The Bloody Chamber” sendo uma reescrita do conto do escritor frânces Charles Pierrault “ engloba estes temas e outros.

Para quem já conhece o conto original existem algumas alterações fundamentais: primeiro existe uma terceira personagem, um moço de recados cego, que vem a ser uma das personagens com mais influência no final, segundo não são os irmãos que salvam a personagem principal, mas a mãe e por último o próprio fim acaba por divergir um pouco do original.

Sentimos logo de inicio que a personagem feminina é uma pessoa algo “corrupta”, visto que se casou com o marquês pelo seu estatuto social, embora proclame que o ama. Chegadas ao castelo onde vão passar a lua-de-mel e tomando conhecimento que o seu marido teve outras mulheres, que usavam um anel, abre-se uma nova porta na vida do marquês “every bride that came to the castle wore it, time out of mind. And did he give it to his other wives and have it back from them? asked the old woman rudely; yet she was a snob. O marquês for a casado três vezes, sendo a protagonista a sua quarta mulher. O anel e o colar de rubis representam não só a paixão e o poder que o Marquês exerce sobre a protagonista, como também é o símbolo do seu destino e o das outras mulheres. Existe sempre uma fronteira entre o pavor que a narradora sente, mas também o fascínio pela riqueza e luxúria que o marido lhe poderia oferecer. He made me put on my choker, the family heirloom of one woman who had escaped the blade. With trembling fingers, I fastened the thing about my neck. It was cold as ice and chilled me.” A protagonista consegue quando está com o colar sentir a morte cada vez a aproximar-se dela, sem se aperceber que o destino de todas as mulheres que usarem o colar será o da dona original: a morte. A personalidade sádica e perversa do marquês evidencia-se através do voyerismo “Our bed. And surrounded by so many mirrors! Mirrors on all the walls” e de uma possível colecção de pornografia “Have the nasty pictures scared Baby? Baby mustn't play with grownups' toys until she's learned how to handle them, must she?” Através dos espelhos o marquês consegue intimidar a mulher, contemplando-a como um objecto, mas sem esta poder retribuir. Yet I had been infinitely dishevelled by the loss of my virginity. I gathered myself together (…)” A protagonista é aniquilada como mulher, renascendo na mesma cama que o seu marido nasceu para ser sua mulher inteiramente. Porém esta não é inteiramente livre de culpa, ela própria admite a sua culpa de se ter deixado seduzir pela luxúria. O objectivo, digamos assim, de Carter seria mostrar uma certa supremacia do homem face à mulher a nível económico.

Quando o marido é forçado a deixar a lua-de-mel em negócios e seguindo fielmente a linha original a protagonista fica em casa sozinha com um molhe de chaves, cuja mais pequena não deve nunca ser usada. Uma das advertências principais do conto de Perraults era dirigida aos maridos, para que não fizessem pedidos impossíveis de realizar às suas mulheres. Embora a chave represente uma armadilha para a jovem esposa I did not believe one word of it. I knew I had behaved exactly according to his desires; had he not bought me so that I should do so?”, o marquês sabe que ela irá fraquejar e descobrir a câmara secreta para depois se juntar às outras mulheres. O rio de sangue no qual as chaves caem, é o espelho do seu futuro, mas também indica que todas as mulheres perderam a virgindade com o marquês, dando pelo menos às três acesso directo à morte. Essas duas marcas (a perda da virgindade e o sangue na chave) nunca irão desaparecer, servindo como provas para a sua sentença dada pelo marquês no dia em que regressa 'My virgin of the arpeggios, prepare yourself for martyrdom.' 'What form shall it take?' I said. 'Decapitation,' he whispered, almost voluptuously.” Facto curioso este ritual de morte que evidencia não só o sadismo do marido, como também este parece ter traços de vampiro: “'My little love, you'll never know how much I hate daylight!”, “And he kissed those blazing rubies.”, a própria cara do marquês é extremamente branca. Sendo os vampiros seres sexuais e com bastante encanto a narradora não é mais que uma presa. Será a mãe quem a libertará das garras do marido, restituindo uma vida normal à filha. A imagem da mãe em “The Bloody Chamber” e em vários outros contos é uma mistura de homem e mulher. A mãe mata o marquês, quando entra, no seu cavalo, pelo pátio do castelo evitando a morte da filha. Ao contrário da filha a mãe não consegue ser corrompida e é na verdade uma personagem independente. Cabe à mãe o papel de não só salvar a filha, como restituir uma vida calma com uma terceira personagem masculina: Jean-Yves, um pobre afinador de pianos cego, que também sofre de alguns estereótipos machistas. No fim do conto temos uma importante marca de intertextualidade com a obra de Charlotte Brontë “Jane Eyre”. O contraste entre as duas personagens masculinas será mais evidenciado através da cegueira. Ambos precisam do apoio das mulheres para estas se sentirem úteis e não submissas, e no caso de “The Bloody Chamber” a cegueira pode significar impotência sexual, levando a crer que esta impotência nada mais será do que um amadurecimento da personagem principal, que não precisa mais do masoquismo.

Monday, April 12, 2010

Annemarie Schwarzenbach: exposições e livros



Para quem gosta de ler existe sempre um punhado de autores que nos marcam, mesmo sem termos à partida aquele sentimento de identificação para com os heróis das nossas histórias favoritas. Uma razão pela qual a saga "Twilight" tem inúmeros fãs será graças à personagem masculina de Edward, que é considerado para muitas uma espécie de príncipe encantado moderno.

O que mais me atraiu em Annemarie Schwarzenbach, mesmo antes de pegar na sua obra, foi o seu ar triste e melancólico, a sua pose depressiva e desiludida sobretudo com a vida. Os seus olhos, postados para o infinito, à procura de algo, nem ela, nem nós sabemos o que andamos à procura neste mundo, mas carregam sobretudo as memórias de vários países, de várias pessoas e de várias culturas.

Annemarie Schwarzenbach viajou pelo Médio Oriente, Europa, América e África em fuga da ascensão do nazismo e da sua Alemanha que já não reconhecia. Parte à procura do exotismo prometido no imaginário das "Mil e uma noites" e encontra uma Pérsia quente, sufocante, árida demais para servir de consolo ao seu espírito. O amor parece não ter em vista um final feliz, já que a sua amada Halé encontra-se gravemente doente e acaba por falecer enquanto Annemarie Schwarzenbach encontra-se doente.



A malária, a dependência da morfina, o sentimento de culpa de ter abandonado Halé quando ela mais precisava carregam a consciência de Annemarie Schwarzenbach que parece sempre escapar de um sitio para o outro, fotografando o mundo no seu estado caótico. A maquina fotográfica aparece como espelho da sua própria vida em ruínas. Faleceu aos 34 anos numa queda de bicicleta, na qual resultou uma hemorragia interna, contudo a causa da morte fora constituída como esquizofrenia.

Como vêm não existe nenhuma heroína possível nos livros da jornalista e quem lê os livros, estes assemelham-se a diários ou pequenas confissões difusas. O que existe de tão precioso em Annemarie Schwarzenbach? A linguagem é cuidada, algo que não é comum nos livros de viagens; a fronteira ténue entre o pessoal e o exterior. Annemarie Schwarzenbach tende a divagar e a diminuir essa linha entre a descrição do exterior (montanhas, pessoas, sítios) para exteriorizar os seus pensamentos. E o facto de termos conhecimento que de facto aquele livro não é nenhum história ficcional, que de facto a Halé morreu, que Annemarie tentou suicidar-se, que Annemarie nunca mais voltaria ser a mesma, mexe com o leitor.

Da obra de Annemarie Schwarzenbach sobressai a figura do anjo, as descrições belíssimas do Médio Oriente e uma vida que se perdeu demasiado cedo. A escritora foi redescoberta nos anos 80.

Livros:
Tod im Persien | Morte na Pérsia | Tinta da China: 16€95
Lyrische Novelle | Novela lírica | Granito Editores: 10€97
Das glückliches Tal | Lenos Verlag
Flucht nach oben | Lenos Verlag
Eine Frau zu sehen | Kein + Aber

Exposições:
Até 25 de Abril de 2010 | CCB : Auto-retratos do Mundo | Colecção Berardo

Filmes:
Die Reise nach Kafiristan | Donatello Dubini | Fosco Dubini | 2001




Saturday, April 10, 2010

Feira do livro FNAC


Melhor que saldos de roupa, só mesmo saldos de livros.
A lista dos mais apetecíveis:
  • Kafka à beira-mar: Haruki Murakami - 12€60
  • Cem anos de solidão: Gabriel García Marquéz - 10€50
  • Ernest Hemingway (5€ cada)
  • From Whom the bells tolls
  • A Farewell to arms
  • Fiesta the sun also rises
  • The old man and the sea
  • To have and have not
  • Green Hills of Africa
  • The Observations: Jane Harris - 5€
  • The Night Watch: Sarah Waters - 5€
  • Cemitério de Pianos: José Luis Peixoto - 16€75
Tive o cuidado de assinalar a laranja aqueles que já li e recomento altamente. Especialmente os livros do Hemingway, que são brilhantes.

Wednesday, April 7, 2010

Fanny Hill

Fanny Hill
or Memoirs of a woman of pleasure
John Cleland
Penguin Books Ldt.
Pages: 224
Preço: 2€19

(SEM CLASSIFICAÇÃO)

Após quatro anos a estudar literatura deparei-me com uma obra, cuja classificação parece-me impossível de atribuir. É um livro muito bom, digno de ser chamado um clássico, que me chocou não pelo seu conteúdo, mas sim pela recepção da obra no tempo que foi escrita. Escrito em 1784, enquanto Cleland encontrava-se preso por dívidas. Considerado um dos principais livros eróticos e o primeiro exemplar erótico do período moderno (não confundir com contemporâneo). Confesso que a minha review será um pouco confusa, devido ao estilo não me ser familiar. Depois de ler o "Decameron" também um exemplar fortemente erotizado, o livro é simples, bem escrito, com descrições que nunca caem no ridículo. Se em português podemos considerar que escrever algo erótico pode ser um pesadelo para não cair no ordinário, Cleland capta o leitor com a variedade de situações que a jovem Fanny se depara. O livro peca somente por ser repetitivo em algumas cenas de sexo, onde Fanny mantêm a sua obsessão por homens prendados ”I saw, with wonder and surprise, what? not the play-thing of a boy, not the weapon of a man, but amaypole of so enormous a standard, that had proportions been observed, it must have belonged to a young giant. Its prodigious size made me shrink again; yet I could not, without pleasure, behold, and even ventured to feel, such a length, such a breadth of animated ivory! " Quando as três prostitutas: Emily, Harriet e Louisa descrevem como perderam a virgindade, embora em situações diferentes, as descrições acabaram por ser semelhantes.

"(Emily) I was far from disrelishing, he got upon me, and inserting one of his tights between mine to his purpose; whilst I was so much out of my usual sense, so subdued by the present power of a new one that, between fear and desire, I lay utterly passive, till the piercing pain roused and made me cry out." -

"(Harriet) I had a glimpse of that instrument of the mischief which was now, obviously even to me, who had scarce had snatches of a comparative observation of it, resuming its capacity to renew it, and grew greatly alarming with its increasing of size, as he bore it no doubt designedly, hard and stiff against one of my hands carelessly dropped; but then he employed such tender prefacing, such winning progressions, that my returning passion of desire being now so strongly prompted by the engaging circumstances of the sight and incendiary touch of his naked glowing beauties, I yield at length at the force of the present impressions and he obtained by my tacit blushing consent all the gratifications of pleasure left in power (...) -

"(Louisa) I gazed at, I devoured it, till his getting upon me, and placing himself between my tights, took from me the enjoyment of its sight, to give me a far more grateful one in its touch, in that part where its touch is so exquisitely affecting."

O livro engloba critica social, com uma ironia mordaz, que ajuda a "desenjoar" das cenas de sexo. Entre cenas de homossexualidade, orgias, sadomasoquismo e voyerismo, Fanny Hill consegue atingir harmonia entre o prazer do sexo com o amor, após dois anos marcados por uma vida libertina.

Vale a pena ler, é um livro bonito, nem tanto pelas personagens, mas mais pelas situações que deparam. Quando tiver oportunidade tentarei ler algo de Cleland.

Saturday, April 3, 2010

Páscoa


Apesar de não ser religiosa, acredito que estas festas servem para:

- uma pausa para rever as matérias dadas na faculdade;
- rever a família
- comer até não puder mais
- receber presentinhos e dar
- receber a visita do coelhinho :3

Por isso feliz Páscoa :)


Friday, April 2, 2010

O amor nos tempos de cólera

O amor nos tempos de cólera
Gabriel García Márquez
Editora: Dom Quixote
Prémio Nobel 1982
ISBN: 9789722000321
Preço: 17€75


Primeiro gostaria de referir que escolhi deste livro após ter lido opiniões bastante favoráveis como: "uma história de amor inesquecível", "fabuloso" e ainda "um dos melhores livros que já li". Tentada a ler esta obra-prima esperei três meses até a conseguir requisitar na biblioteca da minha faculdade, pois como vêm o preço não é nada barato e ler espanhol traduzido em inglês talvez não fosse a melhor ideia. Acrescento que este livro veio depois da leitura de "Pride and prejudice" também um livro muito romântico.

"O amor nos tempos de cólera" narra o amor obsessivo de Florentino Ariza por Fermina Daza, e esquece-se de falar dos sentimentos desta. A narrativa tem muito pouco de emocional, o que me leva a crer que fora apelidada de mais romântica devido ao que está por detrás da história, do que propriamente ao fio narrativo. As personagens são interessantes e talvez o único motivo pelo qual continuei a ler. Florentino Ariza é um homem, que mais parece um fantasma ou uma sombra. Vive obcecado com Fermina a partir do momento em que entrega ao pai um telegrama e desde então espera-a sempre no caminho para o colégio para vê-la. Escreve mais de cinquenta cartas de amor a declarar a sua paixão, mas a mãe desencoraja-o a entregá-las, já que parecia mais um livro do que uma declaração de amor. Quando consegue finalmente entregar, Florentino começa a ter sintomas de cólera (sintoma este de amor e não de cólera). Referi no inicio que a narrativa tinha muito pouco de romântico, já que sabemos que as personagens estão apaixonadas não pelo que dizem, ou pelos gestos mas pelos sintomas de cólera que apresentam. Durante a história somente Florentino e Fermina possuem tais sintomas. Por oposição do pai Fermina ao casamento dela com Florentino, um Zé-ninguém, que não merece o diamante que é a sua filha, leva-a até à sua prima Hildebranda, mas esta torna-se a segunda confidente de Fermina e da sua correspondência com Florentino. De regresso à cidade Fermina apresenta sintomas de cólera após rejeitar Florentino, alegando que o seu romance não era nada mais que uma ilusão e casa-se com o doutor Juvenal Urbino. É um casamento de fachada, para ela subir de estatuto, o que leva uma poetisa a chamá-la de “prostituta” e leva também o leitor a pensar quais os motivos que levaram-na a rejeitar Florentino. Florentino consegue desenvolver a sua personalidade de perseguidor para um ninfomaníaco obsessivo, que “fornica” com várias viúvas, mulheres casadas e com a sua sobrinha, vinte anos mais nova. O sexo é a sua grande consolação para a não correspondência de Fermina, e Florentino atribuiu esse sucesso entre as mulheres ao seu ar de pobre que sofre de amores. Enquanto Florentino viaja por entre as mulheres, Fermina e Juvenal vivem um casamento atribulado, marcado por viagens que são muitas vezes a salvação deste. Fermina é uma mulher de contrastes: independente, sofisticada, mas é também vítima da rotina diária, e com o tempo nota que torna-se cada vez mais afável com o marido pelo facto de meter o sabonete ou reparar as camisas deste. Juvenal é um homem frio, isolado nos seus livros e na sua música, mas fraco e religioso tornando-se o oposto de Fermina.

O que mais aprecio na narrativa de Gabriel García Márquez é a capacidade de construir um romance em que as personagens conseguem sempre amar em velhos. Existe sempre um equilíbrio entre pessoas jovens e já velhas, no entanto não significa que a idade seja uma barreira. Pelo contrário. O fim é extremamente belo e romântico e faz-nos sonhar com um amor que dure tanto tempo. Ao contrário do que Ofélia (filha de Fermina e Juvenal) pensa, o amor entre duas pessoas já idosas não é algo nojento, mas sim puro e belo. “O amor nos tempos de cólera” fica com um registo positivo do autor, sem grandes excessos, nem grandes gracejos.

Thursday, March 25, 2010

Pride and prejudice

Pride and Prejudice
Jane Austen
Editora:
Longman: the heritage of literature series


Jane Austen iniciou a escrita de “Pride and Prejudice” em 1796, a que deu o nome inicialmente de “First impressions”. Apesar de ter sido inicialmente recusado, fora publicado em Janeiro de 1813 sendo o seu segundo livro a ser publicado, a seguir de “Sense and sensibility”. Jane Austen serve-se de uma história de amor para satirizar as classes sociais superiores, mas também inferiores. “Pride and prejudice” não é só a história de amor (quase impossível) entre Elizabeth Bennet e Mr. Darcy. Existe um leque de personagens, em que cada representa um estereótipo da sua classe: Mr. Collins tem uma relação de amizade com Lady de Bourgh, apesar do seu nível social inferior; a família Bennet relaciona-se com a família Bingley e com mr. Darcy apesar de serem “middle class”. Mrs. Bennet é uma personagem satirizada pelos seus comportamentos; o seu maior sonho é ver as cinco filhas casadas e quando esse desejo realiza-se não sabe quais dos genros são mais bonitos e ricos. Quando Lydia casa com Wickham, Mrs. Bennet espalha a notícia que a sua filha mais nova vai casar aos dezasseis anos. Contudo Elizabeth é a única que entende a tragédia da união da sua irmã com um homem hipócrita. Quando Jane aceita o pedido de casamento de Mr. Bingley, Mrs. Bennet não pensa na possível felicidade da filha, mas sim nos dez mil de rendimento que o futuro genro possui. Da mesma maneira Charlotte Lucas aceita o pedido de casamento de Mr. Collins, após ser recusado por Elizabeth, conferindo assim a ascensão social em troca do amor. Jane e Elizabeth são os dois exemplos de que o amor pode ultrapassar as diferenças sociais. O fim é sem dúvida feliz e cor-de-rosa, o que nos leva a pensar como seria se Lydia não tivesse casado com Wickham e tivesse manchado o nome da família. Honra e reputação são dois factores que tanto são satirizados, como levados a sério. Se Lydia não tivesse fugido com Wickham, o relacionamento de mr. Darcy com Elizabeth seria impossível, devido à mancha que os Bennet teriam de suportar. Mr. Darcy consegue, com sucesso, emendar os erros, para que a ponte da felicidade e do matrimónio se estabelecesse entre ele e Elizabeth. Esta quebra na harmonia será o único símbolo de perigo e ameaça presente em todo o livro. Se o leitor não se apercebe pelas lágrimas de Elizabeth, que a sua heroína está prestes a ser eliminada pela sociedade, Lydia tem, por sinal, o dom de conseguir afastar-se da sociedade de classes e honra. Ao fugir com Wickham, consegue libertar-se, por algum tempo deste sistema, enquanto Elizabeth e Jane sabem que para serem felizes têm de se manter fiel às regras da sociedade.

A relação de amor-ódio-orgulho entre mr. Darcy e Elizabeth será melhor caracterizada através das viagens. Sabemos que as viagens têm sempre um papel fulcral em toda a literatura e raras são as obras em que as viagens não estão presentes. Elizabeth, Jane e Lydia viajam durante o romance, mas são as viagens de Elizabeth que contribuem para o desenvolvimento da história. Na sua viagem até à casa de mr. Collins, mr. Darcy aparece e pede-a em casamento; na segunda viagem até Pemberley, os seus sentimentos por mr. Darcy começam a mudar e Elizabeth acha-o menos orgulhoso e mais natural, aliando a propriedade de Pemberley (calma) com a personalidade de Darcy e por último, a terceira viagem é marcada pelo encontro de mr. Darcy com Lydia.

Apesar de durante muito tempo “Pride and Prejduice” ter sido encarado como uma obra menor, o realismo e a crítica social aliada às duas histórias de amor revelam que “Pride and Prejudice” merece estar ao lado de outros livros pertencentes ao cânone literário. Jane Austen será uma leitura perfeita para quem gosta de finais felizes, sem superficialidades. Mais tarde Charlotte Brontë, com a sua personagem feminina Jane Eyre, conseguiria prender os leitores com o mesmo realismo e crítica.

Friday, March 19, 2010

Mais para ler


Após um ritmo frenético de leituras, escrita, faculdade e trabalhos, o melhor é mesmo fazer uma pausa e optar por fazer escolhas. Como vêm, não vou descuidar da minha leitura, aliás quero ler bastante até ao fim do semestre, contudo a escrita terá de ser posta de lado, pelo menos a portuguesa. Os sintomas começam a ser óbvios, já dificilmente consigo exprimir-me em português e as minhas aulas ou são em alemão ou inglês. Ontem enquanto estava no Instituto de alemão, durante duas horas não consegui pensar uma única vez em português, simplesmente vinham-me à cabeça palavras inglesas como tradução das alemãs. Continuo a ter muitos projectos na minha cabeça, mas para isso preciso também de tempo e de muitas leituras e estudo. Como consta na imagem para já leio um pouco de tudo, desde a Divina Comédia até ao autor Jeff Abbott, passando por Dürrenmatt e também pelo stream of consciousness de Faulkner que sempre inspirou-me. Apesar da vaga excessiva de vampiros, que se tem vindo a registar nos últimos tempos, ainda guardo algum espaço para livros de vampiros na minha lista. Espero que em Junho já tenha tudo organizado e livre para durante estas férias arrumar com os contos e o "livro". Para já leio bastante, estudo alguns livros e não descuido de premeditar futuras teorias a serem postas em práticas nos meus contos. Tenho muito para crescer e muito para exprimir, mas para já tem de ficar tudo na gaveta e para mim. Vou tentar ser mais rigorosa e embora tenha vindo a adiar a maturidade que a sociedade impõe-me à força, penso que chegou o tempo de reflectir um pouco e escrever umas "baboseiras", que nunca verão a luz do dia.


Tuesday, March 16, 2010

Madame Bovary

Madame Bovary
Gustave Flaubert
Biblioteca Visão
Tradução de: Fernanda Ferreira Graça



Charles Bovary é um médico mediano, um homem simples, cujo sucesso no seu campo de trabalho nunca é suficiente para satisfazer os caprichos da sua mulher. Apesar do romance intitular-se "Madame Bovary" a obra começa com a infância de Charles e nos primeiros capítulos é a sua figura banal que se dá a conhecer. Após completar a sua formação de médico, Charles começa a exercer medicina e é chamado pelo senhor Rouault, para o examinar devido a uma fractura na perna. A fractura é bastante fácil de tratar e isso descansa um pouco o espírito de Charles, que receia sempre as suas capacidades limitadas. Retorna várias para verificar a perna do senhor Rouault e aí nota a presença de Emma - uma mulher bonita, delicada, criada num convento de freiras, onde os romances muitas vezes passavam-lhe pelas mãos clandestinamente. Cresceu a ler os livros de Walter Scott e muitos outros, sonhando com o dia em que seria arrebatada pelo amor. Charles pede Emma em casamento e a pequena aceita pensando que chegou a hora de viver as aventuras com que sonhou. No entanto depressa cai na rotina, sem nada para fazer, enquanto o marido vai-lhe parecendo cada vez mais grosseiro. O convite para um baile do marquês de Andervilliers marca uma nova etapa na vida de Emma. Começa a seguir atentamente a moda e sonha com uma vida de luxo. Quando a família muda-se Emma está grávida.

Na segunda parte do romance, já em Yonville, o ciclo de amizades do casal Bovary cresce, introduzindo novas personagens: Homais e Lhereux, personagens estas que acompanham o resto da narrativa. Homais é o dono da farmácia, homem de ciência, enquanto Lhereux é um comerciante que em muito contribui para a queda de Emma. Emma entretanto dá à luz a Berthe, a sua filha (personagem que considero mais trágica na obra) e começa a sentir-se atraída por León, um escrevente de advogado. Leon por sua vez não consegue confessar a Emma o seu amor e muda-se para Paris. Após esta partida, Emma apaixona-se por Rodolphe, um homem mulherengo, farto da sua amante, que segundo ele já está a ficar gorda de mais. Tenta conquistar Emma, tarefa nada fácil, mas sendo Rodolphe bastante persuasivo não desiste e até oferece um cavalo para ajudá-la nas suas aulas de equitação. Descontente com a transformação do seu marido, parecendo-lhe cada vez mais desagradável e provinciano, aceita a oferta. Quando se apercebe que tem um amante como nos livros que leu, Emma fica excitada e o seu humor muda. Torna-se mais simpática para todos até para Charles e para a sua filha, que desde o inicio estava entregue aos cuidados de uma ama. Mas esta relação mostra-se tão instável quanto o casamento e Emma várias vezes pensa em deixar o amante. Uma operação mal sucedida de Charles ao pé torto de Hippolyte faz com que Emma regresse aos braços de Rodolphe e pense em fugir. Esta ideia é acolhida falsamente por Rodolphe, concordando de inicio, contudo uma aventura não é um compromisso. Escreve uma carta a explicar que a "fatalidade" encarregar-se-á de destruir aquela bela relação, pois é o destino, pede a seguir para ficarem bons amigos e parte de Yonville. Quando Emma vê a carta desmaia e fica gravemente doente, quase às portas da morte durante um ano. Charles não trabalha para vigiar a sua mulher e as contas dos medicamentos começam a amontoar-se. Quando Emma recupera lentamente, Charles regressa ao seu oficio enquanto a mulher torna-se uma esposa exemplar.

A terceira e última parte representa o desfecho trágico das situações que se vão acumulando ao longo dos capítulos anteriores. Leon regressa a Yonville e encontra-se por acaso com Emma numa peça de teatro. Desiludida e magoada, Emma afasta-se de Leon, mas olhando Charles como um fracassado, rude e Berthe como uma criança feia, Emma aceita a corte de Leon e a partir daí visita-o sempre em Rouen, desconfiada sempre se alguém a visse ou reconhecesse. Também esta relação com o segundo amante acaba por torna-se tão entediante como a do casamento e sem saber ambos caem na rotina e chegam a um ponto em que não se amam, mas também não têm coragem para terminar a relação. As dívidas continuam a acumular-se e saem fora do controlo de Emma até que Lhereux apresenta uma conta de 8 mil francos. Arruinada, Emma recorre a todos para ajudarem-na a pagar pelo menos mil francos, mas todos lhe fecham a porta, ou pedem para se prostituir em troca do dinheiro. Encurralada, despida dos seus bens, toma arsénio e acaba por morrer após todas as tentativas de salvamento por parte de Charles e Homais. O funeral realiza-se com Charles sem ter noção da ruína em que se encontra. Após o enterro Charles cai em desgraça assolado pelas dívidas, até que encontra as cartas que Emma trocara com Rodolphe e acaba por morrer. Berthe ainda criança vai morar com a avó que falece no mesmo ano, sendo depois entregue a uma tia pobre e é forçada a trabalhar numa fábrica.

Apreciações gerais: É um livro bonito. A personagem de Emma é excessiva e emocionalmente desequilibrada. Existe algo no seu íntimo, que leva-nos a simpatizar a sua situação. Talvez seja o facto de sabermos que, de facto, Emma nunca será feliz com o casamento que realizou. Creio que se tivesse casado com alguém de posses, que pudesse, sem objecções providenciar-lhe todo o luxo material para substituir o afecto, Emma conseguiria disfarçar os seus desequilíbrios. Não fora por acaso que este livro tem bastantes parecenças (ou melhor "Sister Carrie" é que é parecido com "Madame Bovary") com Theodor Dreiser com o seu livro "Sister Carrie".

Ambas não conseguem apaixonar-se pelos homens, mas sim pelos bailes e pela vida luxuosa (Emma) ou pela cidade (Sister Carrie). Dei por mim várias vezes a pensar que a vida de Emma até certo ponto deveria de ser um verdadeiro tédio: não podia trabalhar, não tinha qualquer distracção ou companhia para passar os dias. Possivelmente estes dois factores foram fundamentais na apreciação geral da personagem.

Como mencionei acima, não considero Emma uma personagem verdadeiramente trágica. A sua morte foi resultado das suas acções e também do meio. Berthe é a única sobrevivente. É ela que terá sempre na memória os tempos de criança e de luxo que foi habituada, não mencionando a tragédia que é perder a mãe e o pai quase ao mesmo tempo e depois a avó. Berthe, inocente e desprovida de qualquer culpa em relação sistema criado em torno da sua família, acaba por ser a única que paga pelos erros de Emma e Charles. Provavelmente muitas mulheres achem Emma tonta, fútil e supérflua, mas de facto na época em que fora escrito e publicado não se esperava muito mais de uma mulher. Fica um registo positivo do autor.

Friday, March 12, 2010

O acidente

O acidente
(Die Panne)
Friedrich Dürrenmatt
Edição: Europa-América
Páginas: 123




Alfred é um homem com uma vida desafogada que trabalha numa empresa de texteis e que durante uma viagem o seu carro topo de gama avaria. Deambula então por uma aldeia onde encontra uma casa constituída por senhores velhos, reformados da vida politica, cujo hobby é fazer julgamentos fictícios. Trapps janta com eles e aceita tomar parte desta brincadeira, começando por se afirmar inocente, pois até à data não cometera crime nenhum. Os senhores, riem-se e duvidam da sua palavra, escavando até ao mínimo detalhe da sua vida. Aprendem que Trapps fora filho de um operário marxista e que só recentemente conseguiu subir de posição. Lutou por isso toda a vida para ter uma posição favorável. Trapps é casado, tem quatro filhos e a recente morte do patrão fora o principal motivo da sua ascensão. A morte do patrão leva o juiz a entender que Trapps matara-o. No entanto este alega que o senhor morreu de um ataque de coração. A necessidade de um crime e a necessidade de um culpado, leva a que Trapps seja julgado pelas suas acções menos nobres. Trapps é sentenciado à morte ficticiamente pela morte indirecta do patrão.

O labirinto mental, a veracidade das acusações e dos factos, as metáforas bem conseguidas, fazem com que este conto, ainda que pequeno, valha bem a pena ler. Com algumas referencias ao estilo de Kafka e influenciado pelo existencialismo, Friedrich Dürrenmatt foi uma surpresa bastante agradável, proporcionando uma experiência estranha e ao mesmo tempo deliciosa, abandonando o leitor no fim, psicologicamente perturbado.

Thursday, March 11, 2010

Effi Briest

Effi Briest
Theodor Fontane
Páginas: 388
Editora: Difel



Começo a minha "review" concordando com o que Thomas Mann referiu à umas décadas atrás. Uma biblioteca não pode ser considerada completa se na lista de romances não tiver "Effi Briest".
Effi Briest uma jovem de dezassete anos casa com um conselheiro de ministro, o barão Geert Innstetten, de trinta e oito anos. Luise Briest confessa à filha que o barão estava apaixonado por ela quando eram jovens, no entanto Luise decidira casar com outro homem. Effi chocada com o pedido do barão, mas ciente de que este lhe proporcionará uma vida boa aceita casar com ele. A lua-de-mel corre bem e Effi aprende bastantes coisas novas, e Geert demonstra ser um homem afável, que ama e estima muito a sua mulher. Chegados a Kessin, cidade pequena onde irão morar nos próximos tempos, Effi parece não se habituar á nova morada, devido à imagem de um chinês, que lhe aterroriza as noites e só o cão Rollo a consola enquanto o marido parte em negócios. Effi partilha os seus medos, mas Innstetten adverte-a que se continuar a imaginar aquelas histórias, as pessoas da cidade rir-se-iam deles e iriam ser alvo de chacota. Effi é, de uma maneira fria, educada através do marido para se tornar uma mulher madura e adulta. A chegada do major Crampas incide na vida de Effi uma nova etapa. Conhecido por ser popular entre as mulher, um verdadeiro "womaniser" Effi não consegue resistir aos seus encantos e acaba por ter um relacionamento extra-conjugal.

Sei que de facto este livro vem na linha de outros como "Madame Bovary", "Sister Carrie" e "Anne Karenina", visto que estou a ler em paralelo o "Madame Bovary" e já li "Sister Carrie", parece-me que "Effi Briest" talvez pela sua natureza rebelde e juvenil, consegue seduzir o leitor. É um livro que nos fica na memória e tão depressa não desaparece de lá.


Sunday, March 7, 2010

Tim Burton's Alice in Wonderland

Title: Alice in Wonderland
Director: Tim Burton
Release Date: 4th March 2010
Cast:
Johny Depp - Mad Hatter
Mia Wasikowska - Alice
Helena Bonham Carter - The Red Queen
Stephen Fry - Cheshire Cat (voice)
Anne Hathaway - The White Queen



O filme começa ainda com Alice pequenina sonhando constantemente com um "rabbit with a waistcoat" e pensa que está a ficar louca. A aparição dos pais de Alice faz-nos pensar que no original não temos o privilégio de os conhecer nos livros de Lewis Carrol. Sabemos que Alice deve ter pais, mas ela nunca os menciona. Burton preenche sem se aperceber uma lacuna que Carrol deixara, de propósito ou não, isso deixemos para o campo da literatura. Após este flashback, somos levados a conhecer uma Alice na idade adulta, com 19 anos, que continua a ter os sonhos, mas mesmo assim terá de se comportar como uma menina da sua idade agora pronta para casar e assumir responsabilidades da idade adulta. Numa festa onde é esperada por todos, Alice sabe que nesse dia o lorde ... irá pedí-la em casamento. Não preparada para tomar este passo tão importante na sua vida, Alice que durante a festa vê várias vezes um coelho, segue-o até à sua toca onde a queda é tudo menos suave.

Quando resolve beber a famosa garrafa que diz "drink me" Alice comete os mesmo erros de à 13 anos atrás: esquece-se da chave, e tem de comer o biscoito que diz "eat me" para crescer e conseguir pegar na chave que está na mesa. Já em "Wonderland" Alice encontra o White Rabbit, Tweedle Dee e Tweedle Dum na companhia de um valente Doormouse, que a levam ao encontro da Caterpilar, Absalom, para saberem se é esta a verdadeira Alice, de que o oráculo fala.

Como dá para ver pela sinopse breve, de modo a evitar spoilers maiores, "Alice in Wonderland" não é um remake, mais uma sequela ao filme da Disney de 1951, esse sim, segue a maior parte das pisadas dos livros de Lewis Carrol "Alice in Wonderland" e "Through the Looking Glass". No entanto Burton aproxima as personagens para uma esfera mais pessoal, atribuindo nomes pessoais às personagens simplesmente conhecidas pelo seu estatuto ou pelas suas características - O Hatter é mad - a Red Queen é de facto uma queen - o Cheshire Cat é um gato e a Caterpilar é uma centopeia que fuma. Aqui todas as personagens têm nomes próprios, reduzindo drasticamente a carga de identidade. Quando confrontada com a pergunta "Who are you?" desate vez Alice consegue responder mantendo-se firme, no entanto esta Alice de 19 anos não é a mesma. Como o Mad Hatter diz "You have lost your muchness". E assim o é. Alice já não é curiosa, mas sim madura, assustada, com uma maior noção da realidade, que foge dos problemas, cuja escapatória é de facto impossível. O White Rabbit foi desaproveitado, dando lugar ao Mad Hatter, personagem extremamente fascinante, não só no filme mas também nos livros. Mad Hatter conta a Alice tudo o que se passou desde a sua partida de Wonderland, partida esta que Alice não se recorda, e recorda os seus tempos como chapeleiro (onde provavelmente não era louco). O actor Jonhy Depp consegue lançar a sua personagem numa teia de emoções e expressões faciais quase bipolares, passando de um homem atormentado pelo seu passado, para um lunático que está constantemente a beber chá e a criar riddles sem sentido aparente.
O Cheshire Cat conserva também tudo o que uma personagem típica do Tim Burton é: para além de uma aparência maléfica, não conseguimos ficar indiferentes aos seus comportamentos engraçados e por vezes felinos.
O filme não é mau, no entanto talvez devido a uma certa rigidez por ser um filme da Disney destinado a um publico jovem, Burton não teve toda a liberdade para criar um filme potencialmente superior. Os actores são bons, os diálogos por vezes lançam-nos em situações clichés e desde o inicio que sabemos o desfecho da historia. Onde está então a diversão em ver este filme, sendo que o desfecho já é previsível? A maneira como Tim Burton conseguiu mais uma vez criar os cenários caótico ou mesmo num cenário possivelmente belo, existe sempre algo de dark.
Vale a pena ir ver, sem ser em 3D, visto que não me sai da cabeça que este 3D só serve para nos chular mais dinheiro, quando é perfeitamente dispensável. Não é o 3D que salva aquilo, mas como sim os tradicionais actores. Tenho fé que o próximo filme do Tim Burton seja algo típico dele e não uma película onde falta algo. Depois de Sweeney Todd e de Corpse Bride ficamos com a sensação que aqueles filmes que nos levaram a delirar durante as horas que tivemos no cinema, desaparecerem neste.

Friday, February 26, 2010

Matters of sex and gender




The matters of love combined with sex

involving prejudice that men project

of women as an object

whose only purpose is to use and then reject.

Thursday, February 25, 2010

Decameron: Parte I

Decameron
Parte I
Giovanni Boccaccio
Tradução: Urbano Tavares Rodrigues
Editora: Relógio d'Água

Decameron foi escrito entre 1348 e 1353, encontra-se dividido em quatro partes, onde sete raparigas e três jovens rapazes partem da cidade infestada com a peste negra, para o campo, com o objectivo de fugir ao clima pestilento e doente, onde todos os dias morrem centenas de pessoas. Jovens e belas encontram três cavalheiros que as acompanham até ao campo. Para passar o tempo todos os dias depois de comer sentam-se ao ar livre e contam pequenas histórias durante os dez dias que lá irão permanecer.
Nesta primeira parte Pampinea é eleita rainha e cada dia surge uma história diferente do mesmo tema.
Os primeiros dez contos abordam temas religiosos onde estão presentes judeus, padres que cedem à tentação, religiosos que vivem em situação de extrema riqueza e podridão moral. Não só de crítica moralista sobrevive este primeiro dia, Fiammeta e Pampinéa contam historias de como as mulheres casadas, tentando ser seduzidas por homens acabam por reprimi-los de forma inteligente. A eloquência dos discursos e também o raciocínio rápido das personagens apoiam a construção destas, que apesar de estarem confinadas a breves momentos (por vezes o conto não tem mais que duas páginas) sentimos uma empatia grande devido à sua personalidade.

Tuesday, February 23, 2010

Herland: a utopia feminina

Herland
Charlotte Perkins Gilman
Editora: Women's Press Ltd.
Ano: 1915
Páginas: 176



Herland como o título refere é uma utopia feminina e feminista, que narra a história de três homens e como estes encontraram um país no meio de uma floresta composto só por mulheres: adultas, jovens e até crianças. Feitos prisioneiros, os três homens, Van (o narrador); Jeff e Terry são mantidos num castelo e tratados com o máximo cuidado e respeito. Aprendem a língua de Herland aos poucos e com ela a cultura e muita da filosofia defendida pelas mulheres. Os três homens apresentam ideologias distintas de acordo com a sociedade vigente: Jeff é um homem "feminizado", delicado; Terry pelo contrário é um homem, cuja ideologia pode parecer mais próxima do machismo; Van encontra-se no meio, sociólogo e entusiasta da linguagem, Van acaba por ceder aos fascínio que Herland lhe proporciona. Os três jovens lançam-se à exploração de Herland, procurando encontrar uma sociedade retrograda, desorganizada e acima de tudo histérica; contudo acabam por encontrar um país tão antigo como o nosso, onde se cultiva o trabalho, a educação, a maternidade, numa sociedade perto de ser perfeita. Apesar de ter classificado o livro no máximo, este não está isento de defeitos. Existem algumas teorias um pouco improváveis e irreais (visto que se trata de uma utopia, o livro todo é irreal), como o caso da descendência composta por bébés do sexo feminino, assegurando a extinção do género masculino de Herland. Aliada à maternidade está, claro, a parentalidade inexistente em Herland. Devido a este mecanismo natural, as três educadoras de Van, Jeff e Terry não estranham a existência da virgem Maria, pois elas são também virgens que dão à luz bebes.
Com bastante engenho Charlotte Gilman consegue muito bem dar voz a um homem, apesar de ser uma obra feminista e feminina. As mulheres são claramente enaltecidas, mostrando o seu valor tanto para trabalhar como para cuidar dos seus filhos ao mesmo tempo. O problema reside mesmo nos visitantes, que com as mulheres a trabalharem, sentem que não lhes podem dar nada, salvo os seus nomes. Este presente presenteia um retrato redutor do homem, que após assistir impotente àquelas mulheres trabalhadoras e felizes pela sua vida simples, pacifica, só resta abandonar todos os ensinamentos da nossa sociedade e voltar às origens do mundo, onde homem e mulher são um casal, sem sedução, sem malícia, apenas por amor fraternal, sem poluição sociológica.
"Herland" deve ser lido por todas as mulheres que gostam de ser mulheres, ainda que pensemos que a nossa sociedade graceja a mulher com a independência tão sofrida, existe ainda bastante preconceito em relação às nossas capacidades e funções nesta sociedade misógena, que aos poucos tem cedido ao retrocesso. "Herland" marca essa luta pela igualdade entre os géneros, que irá marcar a primeira parte do século XX.

Sunday, February 21, 2010

Morreste-me

Morreste-me
José Luís Peixoto
Editora: Temas & Debates



Este pequeno grande livro como pode ser carinhosamente apelidado, retrata num bonito tom poético a dor de perder alguém tão próximo de nós, como perdeu José Luís Peixoto, o seu pai. Um simples virar de chaves para abrir uma porta, chaves estas pertencentes ao pai, chaves da casa que o pai tanto amou, chaves que inconscientemente mergulham uma pessoa a pensar na efemeridade da vida e daqueles que nos rodeiam. "Morreste-me" é uma breve reflexão sentida sobre o quotidiano após a perda de um amigo e de um companheiro.

Saturday, February 20, 2010

Os cadernos de Dom Rigoberto

Os cadernos de Dom Rigoberto
Mario Vargas Llosa
Colecção: Biblioteca Sábado



Após a separação de Rigoberto, um trabalhador de uma companhia de seguros, que vive uma vida interior dupla, de dia no seu trabalho e de noite fantasiando possíveis aventuras eróticas com a sua (ex)mulher. Enquanto Rigoberto é assombrado pelas saudades da mulher, Lucrecia sofre com as visitas do seu enteado, Fonchito, motivo da sua separação com Rigoberto, caracterizando esta criança como um demónio presa num corpo de criança, e a seduziu e desgraçou, pondo fim ao casamento feliz que durava já à onze anos. Fonchito desenvolve uma curiosa obsessão pelo pintor Egon Schiele e depois do colégio visita dona Lucrecia e partilha com ela todos os pormenores dos quadros e da vida de Schiele, tendo como missão juntar o "pápá" e a "madrasta" através do pintor. O leitor é guiado através das fantasias sexuais mais sórdidas, acompanhadas pela pintura, literatura e até música. Existe um mundo real que desvanece aos poucos para se misturar com as fantasias mais retorcidas da mente humana. Apesar de as fantasias não serem o principal motivo pela qual o leitor deixa ser conduzido pelas páginas, a história ficcional do possível entendimento entre Lucrecia e Rigoberto não apresenta qualquer solução definitiva. Não sabemos se Lucrecia e Rigoberto manter-se-ão afastados de Fonchito, de maneira a evitar a divisão do casal, porém os sentimentos de Lucrecia para com o enteado mantêm-se sempre ambivalentes: ora enche-se de cólera e tenta bater-lhe por atormentá-la, ora beija-o na testa e perdoa-lhe as traquinices. É um livro bonito, harmonioso, com uma escrita perfeita e hábil, embora as páginas pareciam multiplicar-se. Como primeira experiência com a literatura erótica devo dizer que foi bastante feliz a escolha deste livro.

Thursday, February 18, 2010

Os (eternos) cadernos de Dom Rigoberto

Vai de caminho fazer uma semana desde que comecei a ler "Os cadernos de Dom Rigoberto" de Mario Vargas Llosa e encontro-me a meio da narrativa. Embora o livro só tenha 255 páginas, parece bem mais comprido, não sei se pela minha falta de familiaridade com os autores latino-americanos, se pela narrativa em si que mistura ficção e realidade dentro do texto. A verdade é que tenho evitado acumular os livros na minha mesinha de cabeceira mas está-se a tornar um pouco inevitável. Tenho lido nos transportes, em casa, à noite, de tarde e as páginas continuam a desfilar à minha frente. Quando acabar este espero que o "Herland" e o "Morreste-me" sejam lidos numa noite para depois lançar-me para o calhamaço do "Decameron".


Entretanto começou o segundo semestre e estou entusiasmada com as minhas disciplinas, embora poucas espero ter muito trabalho e muitos livrinhos para ler. Seminários de Cultura e Literatura Alemã, Estudos Feministas e Alemão vão ocupar-me as segundas e as terças. Pena não haver nenhuma disciplina de Literatura Inglesa Medieval ou Cultura Inglesa Medieval para estudar o Beowulf, ou então uma disciplina sobre literatura fantástica e terror onde podia estudar Edgar Allan Poe... mas não... F*** Bolonha.

Saturday, February 13, 2010

Living dead in Dallas

Living dead in Dallas
Charlaine Harris
Editora: Ace books
Data de lançamento: Março 2002
Páginas: 291
Preço: 6€75



Após Sookie dar a conhecer aos vampiros a sua habilidade de ler os pensamentos e prometer que os ajudaria em troca de deixar os culpados entregues à policia, Sookie encontra-se em Dallas, a prestar serviços para o vampiro Stan, cujo irmão, Farrell, desapareceu. Ainda em estado de choque da morte do seu amigo Lafayette, Sookie vê-se arrastada para uma cidade nova, onde os vampiros são de facto a última ameaça à sua segurança. Com uma leitura mais compulsiva, Charlaine Harris volta-se neste segundo volume para os humanos e como estes conseguem tomar atitudes extremamente radicais. No entanto Sookie está longe de ter um relacionamento perfeito e calmo com Bill Compton, visto que namorar com um vampiro oferece o direito de ter uma vida cheia de perigos, longe da banalidade e pacatez. Contudo os vampiros continuam a ser criaturas assustadoras, instáveis e selvagens. Não existe muita diferença entre os vampiros e os humanos, se não contarmos com o facto de os vampiros estarem mortos, na verdade ambos têm temperamentos muito semelhantes. Os humanos são capaz de odiar os vampiros e os vampiros são capazes de estabelecer vingança e caçar os humanos por prazer e diversão. Existem também para além dos vampiros e dos "shape-shifters", aparece uma "maenad" chamada Callisto atraída pela loucura e promiscuidade dos humanos. A variedade de criaturas é sem duvida um facto positivo, visto que evita que fiquemos fartos de vampiros e tal como Sookie também queremos os nossos momentos humanos.

Agora é só esperar pelo 3º

Friday, February 12, 2010

Livros para ler (2)

A lista entretanto foi actualizada e novos livros vão aparecendo, entretanto virei-me para a literatura pseudo-erótica, feminista e até um pouco de lésbicas (no wink wink here)


Morreste-me
José Luís Peixoto

Após a leitura do "Cemitério de pianos" não resisti a trazer este livro, espero bem que não me desiluda, tenho esperança de vir a ler muitos livros dele.


La Garçonne
Victor Margueritte


"It deals with the life of a young woman who, upon learning that her fiancé is cheating on her, decides to live life freely and on her own terms. Amongst other things, this included having multiple sexual partners. The title translates as "The Tomboy." The title addresses the somewhat ambiguous realm between definite gender roles, e.g. where a Judeo-Christian patriarchal society might place a free-thinking, free-living woman in its social strata."

(wikipedia.org)



Herland
Charlotte Perkins Gilman

'Herland is utopia with a smlle, a gentle, witty version of what women can be. As fascinating to women for what it omits entirely as for what it discovers and invents for us, it is a fast and invigorating read' Marge Plercy; 'Raise three cheers and stop for a good read... a treat awaits you' Cosmopolitan; 'Herland is a pure delight' Susan Brownmiller
(amazon.co.uk)


Decameron
Giovanni Boccaccio

Considerado um dos primeiros exemplares de literatura erótica, com muita ironia à mistura, este livro é uma reunião de contos contados pelos dez jovens que fogem da peste no campo. Depois de ler os "Contos eróticos" numa pequena amostra do que era o Decameron, só posso esperar que este entre nos meu favoritos.





Ghostgirl: a rapariga invisível
Tonya Hurley

E porque nem só de clássicos sobrevive a literatura, momento pita do ano, espero muitos clichés, muitos dramas e sei que vou dar graças a Deus de nunca ter estudado nos E. U. A, no entanto é sempre bom estar actualizada destas obras mais juvenis.