Friday, April 2, 2010

O amor nos tempos de cólera

O amor nos tempos de cólera
Gabriel García Márquez
Editora: Dom Quixote
Prémio Nobel 1982
ISBN: 9789722000321
Preço: 17€75


Primeiro gostaria de referir que escolhi deste livro após ter lido opiniões bastante favoráveis como: "uma história de amor inesquecível", "fabuloso" e ainda "um dos melhores livros que já li". Tentada a ler esta obra-prima esperei três meses até a conseguir requisitar na biblioteca da minha faculdade, pois como vêm o preço não é nada barato e ler espanhol traduzido em inglês talvez não fosse a melhor ideia. Acrescento que este livro veio depois da leitura de "Pride and prejudice" também um livro muito romântico.

"O amor nos tempos de cólera" narra o amor obsessivo de Florentino Ariza por Fermina Daza, e esquece-se de falar dos sentimentos desta. A narrativa tem muito pouco de emocional, o que me leva a crer que fora apelidada de mais romântica devido ao que está por detrás da história, do que propriamente ao fio narrativo. As personagens são interessantes e talvez o único motivo pelo qual continuei a ler. Florentino Ariza é um homem, que mais parece um fantasma ou uma sombra. Vive obcecado com Fermina a partir do momento em que entrega ao pai um telegrama e desde então espera-a sempre no caminho para o colégio para vê-la. Escreve mais de cinquenta cartas de amor a declarar a sua paixão, mas a mãe desencoraja-o a entregá-las, já que parecia mais um livro do que uma declaração de amor. Quando consegue finalmente entregar, Florentino começa a ter sintomas de cólera (sintoma este de amor e não de cólera). Referi no inicio que a narrativa tinha muito pouco de romântico, já que sabemos que as personagens estão apaixonadas não pelo que dizem, ou pelos gestos mas pelos sintomas de cólera que apresentam. Durante a história somente Florentino e Fermina possuem tais sintomas. Por oposição do pai Fermina ao casamento dela com Florentino, um Zé-ninguém, que não merece o diamante que é a sua filha, leva-a até à sua prima Hildebranda, mas esta torna-se a segunda confidente de Fermina e da sua correspondência com Florentino. De regresso à cidade Fermina apresenta sintomas de cólera após rejeitar Florentino, alegando que o seu romance não era nada mais que uma ilusão e casa-se com o doutor Juvenal Urbino. É um casamento de fachada, para ela subir de estatuto, o que leva uma poetisa a chamá-la de “prostituta” e leva também o leitor a pensar quais os motivos que levaram-na a rejeitar Florentino. Florentino consegue desenvolver a sua personalidade de perseguidor para um ninfomaníaco obsessivo, que “fornica” com várias viúvas, mulheres casadas e com a sua sobrinha, vinte anos mais nova. O sexo é a sua grande consolação para a não correspondência de Fermina, e Florentino atribuiu esse sucesso entre as mulheres ao seu ar de pobre que sofre de amores. Enquanto Florentino viaja por entre as mulheres, Fermina e Juvenal vivem um casamento atribulado, marcado por viagens que são muitas vezes a salvação deste. Fermina é uma mulher de contrastes: independente, sofisticada, mas é também vítima da rotina diária, e com o tempo nota que torna-se cada vez mais afável com o marido pelo facto de meter o sabonete ou reparar as camisas deste. Juvenal é um homem frio, isolado nos seus livros e na sua música, mas fraco e religioso tornando-se o oposto de Fermina.

O que mais aprecio na narrativa de Gabriel García Márquez é a capacidade de construir um romance em que as personagens conseguem sempre amar em velhos. Existe sempre um equilíbrio entre pessoas jovens e já velhas, no entanto não significa que a idade seja uma barreira. Pelo contrário. O fim é extremamente belo e romântico e faz-nos sonhar com um amor que dure tanto tempo. Ao contrário do que Ofélia (filha de Fermina e Juvenal) pensa, o amor entre duas pessoas já idosas não é algo nojento, mas sim puro e belo. “O amor nos tempos de cólera” fica com um registo positivo do autor, sem grandes excessos, nem grandes gracejos.

1 comments:

João Paulo (Sharky) said...

Tenho dois livros dele para ler um dia destes. Estou só à espera que os espíritos me dêem um sinal.
Gostei da tua opinião btw ;)

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