Monday, April 12, 2010

Annemarie Schwarzenbach: exposições e livros



Para quem gosta de ler existe sempre um punhado de autores que nos marcam, mesmo sem termos à partida aquele sentimento de identificação para com os heróis das nossas histórias favoritas. Uma razão pela qual a saga "Twilight" tem inúmeros fãs será graças à personagem masculina de Edward, que é considerado para muitas uma espécie de príncipe encantado moderno.

O que mais me atraiu em Annemarie Schwarzenbach, mesmo antes de pegar na sua obra, foi o seu ar triste e melancólico, a sua pose depressiva e desiludida sobretudo com a vida. Os seus olhos, postados para o infinito, à procura de algo, nem ela, nem nós sabemos o que andamos à procura neste mundo, mas carregam sobretudo as memórias de vários países, de várias pessoas e de várias culturas.

Annemarie Schwarzenbach viajou pelo Médio Oriente, Europa, América e África em fuga da ascensão do nazismo e da sua Alemanha que já não reconhecia. Parte à procura do exotismo prometido no imaginário das "Mil e uma noites" e encontra uma Pérsia quente, sufocante, árida demais para servir de consolo ao seu espírito. O amor parece não ter em vista um final feliz, já que a sua amada Halé encontra-se gravemente doente e acaba por falecer enquanto Annemarie Schwarzenbach encontra-se doente.



A malária, a dependência da morfina, o sentimento de culpa de ter abandonado Halé quando ela mais precisava carregam a consciência de Annemarie Schwarzenbach que parece sempre escapar de um sitio para o outro, fotografando o mundo no seu estado caótico. A maquina fotográfica aparece como espelho da sua própria vida em ruínas. Faleceu aos 34 anos numa queda de bicicleta, na qual resultou uma hemorragia interna, contudo a causa da morte fora constituída como esquizofrenia.

Como vêm não existe nenhuma heroína possível nos livros da jornalista e quem lê os livros, estes assemelham-se a diários ou pequenas confissões difusas. O que existe de tão precioso em Annemarie Schwarzenbach? A linguagem é cuidada, algo que não é comum nos livros de viagens; a fronteira ténue entre o pessoal e o exterior. Annemarie Schwarzenbach tende a divagar e a diminuir essa linha entre a descrição do exterior (montanhas, pessoas, sítios) para exteriorizar os seus pensamentos. E o facto de termos conhecimento que de facto aquele livro não é nenhum história ficcional, que de facto a Halé morreu, que Annemarie tentou suicidar-se, que Annemarie nunca mais voltaria ser a mesma, mexe com o leitor.

Da obra de Annemarie Schwarzenbach sobressai a figura do anjo, as descrições belíssimas do Médio Oriente e uma vida que se perdeu demasiado cedo. A escritora foi redescoberta nos anos 80.

Livros:
Tod im Persien | Morte na Pérsia | Tinta da China: 16€95
Lyrische Novelle | Novela lírica | Granito Editores: 10€97
Das glückliches Tal | Lenos Verlag
Flucht nach oben | Lenos Verlag
Eine Frau zu sehen | Kein + Aber

Exposições:
Até 25 de Abril de 2010 | CCB : Auto-retratos do Mundo | Colecção Berardo

Filmes:
Die Reise nach Kafiristan | Donatello Dubini | Fosco Dubini | 2001




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