Thursday, March 25, 2010

Pride and prejudice

Pride and Prejudice
Jane Austen
Editora:
Longman: the heritage of literature series


Jane Austen iniciou a escrita de “Pride and Prejudice” em 1796, a que deu o nome inicialmente de “First impressions”. Apesar de ter sido inicialmente recusado, fora publicado em Janeiro de 1813 sendo o seu segundo livro a ser publicado, a seguir de “Sense and sensibility”. Jane Austen serve-se de uma história de amor para satirizar as classes sociais superiores, mas também inferiores. “Pride and prejudice” não é só a história de amor (quase impossível) entre Elizabeth Bennet e Mr. Darcy. Existe um leque de personagens, em que cada representa um estereótipo da sua classe: Mr. Collins tem uma relação de amizade com Lady de Bourgh, apesar do seu nível social inferior; a família Bennet relaciona-se com a família Bingley e com mr. Darcy apesar de serem “middle class”. Mrs. Bennet é uma personagem satirizada pelos seus comportamentos; o seu maior sonho é ver as cinco filhas casadas e quando esse desejo realiza-se não sabe quais dos genros são mais bonitos e ricos. Quando Lydia casa com Wickham, Mrs. Bennet espalha a notícia que a sua filha mais nova vai casar aos dezasseis anos. Contudo Elizabeth é a única que entende a tragédia da união da sua irmã com um homem hipócrita. Quando Jane aceita o pedido de casamento de Mr. Bingley, Mrs. Bennet não pensa na possível felicidade da filha, mas sim nos dez mil de rendimento que o futuro genro possui. Da mesma maneira Charlotte Lucas aceita o pedido de casamento de Mr. Collins, após ser recusado por Elizabeth, conferindo assim a ascensão social em troca do amor. Jane e Elizabeth são os dois exemplos de que o amor pode ultrapassar as diferenças sociais. O fim é sem dúvida feliz e cor-de-rosa, o que nos leva a pensar como seria se Lydia não tivesse casado com Wickham e tivesse manchado o nome da família. Honra e reputação são dois factores que tanto são satirizados, como levados a sério. Se Lydia não tivesse fugido com Wickham, o relacionamento de mr. Darcy com Elizabeth seria impossível, devido à mancha que os Bennet teriam de suportar. Mr. Darcy consegue, com sucesso, emendar os erros, para que a ponte da felicidade e do matrimónio se estabelecesse entre ele e Elizabeth. Esta quebra na harmonia será o único símbolo de perigo e ameaça presente em todo o livro. Se o leitor não se apercebe pelas lágrimas de Elizabeth, que a sua heroína está prestes a ser eliminada pela sociedade, Lydia tem, por sinal, o dom de conseguir afastar-se da sociedade de classes e honra. Ao fugir com Wickham, consegue libertar-se, por algum tempo deste sistema, enquanto Elizabeth e Jane sabem que para serem felizes têm de se manter fiel às regras da sociedade.

A relação de amor-ódio-orgulho entre mr. Darcy e Elizabeth será melhor caracterizada através das viagens. Sabemos que as viagens têm sempre um papel fulcral em toda a literatura e raras são as obras em que as viagens não estão presentes. Elizabeth, Jane e Lydia viajam durante o romance, mas são as viagens de Elizabeth que contribuem para o desenvolvimento da história. Na sua viagem até à casa de mr. Collins, mr. Darcy aparece e pede-a em casamento; na segunda viagem até Pemberley, os seus sentimentos por mr. Darcy começam a mudar e Elizabeth acha-o menos orgulhoso e mais natural, aliando a propriedade de Pemberley (calma) com a personalidade de Darcy e por último, a terceira viagem é marcada pelo encontro de mr. Darcy com Lydia.

Apesar de durante muito tempo “Pride and Prejduice” ter sido encarado como uma obra menor, o realismo e a crítica social aliada às duas histórias de amor revelam que “Pride and Prejudice” merece estar ao lado de outros livros pertencentes ao cânone literário. Jane Austen será uma leitura perfeita para quem gosta de finais felizes, sem superficialidades. Mais tarde Charlotte Brontë, com a sua personagem feminina Jane Eyre, conseguiria prender os leitores com o mesmo realismo e crítica.

Friday, March 19, 2010

Mais para ler


Após um ritmo frenético de leituras, escrita, faculdade e trabalhos, o melhor é mesmo fazer uma pausa e optar por fazer escolhas. Como vêm, não vou descuidar da minha leitura, aliás quero ler bastante até ao fim do semestre, contudo a escrita terá de ser posta de lado, pelo menos a portuguesa. Os sintomas começam a ser óbvios, já dificilmente consigo exprimir-me em português e as minhas aulas ou são em alemão ou inglês. Ontem enquanto estava no Instituto de alemão, durante duas horas não consegui pensar uma única vez em português, simplesmente vinham-me à cabeça palavras inglesas como tradução das alemãs. Continuo a ter muitos projectos na minha cabeça, mas para isso preciso também de tempo e de muitas leituras e estudo. Como consta na imagem para já leio um pouco de tudo, desde a Divina Comédia até ao autor Jeff Abbott, passando por Dürrenmatt e também pelo stream of consciousness de Faulkner que sempre inspirou-me. Apesar da vaga excessiva de vampiros, que se tem vindo a registar nos últimos tempos, ainda guardo algum espaço para livros de vampiros na minha lista. Espero que em Junho já tenha tudo organizado e livre para durante estas férias arrumar com os contos e o "livro". Para já leio bastante, estudo alguns livros e não descuido de premeditar futuras teorias a serem postas em práticas nos meus contos. Tenho muito para crescer e muito para exprimir, mas para já tem de ficar tudo na gaveta e para mim. Vou tentar ser mais rigorosa e embora tenha vindo a adiar a maturidade que a sociedade impõe-me à força, penso que chegou o tempo de reflectir um pouco e escrever umas "baboseiras", que nunca verão a luz do dia.


Tuesday, March 16, 2010

Madame Bovary

Madame Bovary
Gustave Flaubert
Biblioteca Visão
Tradução de: Fernanda Ferreira Graça



Charles Bovary é um médico mediano, um homem simples, cujo sucesso no seu campo de trabalho nunca é suficiente para satisfazer os caprichos da sua mulher. Apesar do romance intitular-se "Madame Bovary" a obra começa com a infância de Charles e nos primeiros capítulos é a sua figura banal que se dá a conhecer. Após completar a sua formação de médico, Charles começa a exercer medicina e é chamado pelo senhor Rouault, para o examinar devido a uma fractura na perna. A fractura é bastante fácil de tratar e isso descansa um pouco o espírito de Charles, que receia sempre as suas capacidades limitadas. Retorna várias para verificar a perna do senhor Rouault e aí nota a presença de Emma - uma mulher bonita, delicada, criada num convento de freiras, onde os romances muitas vezes passavam-lhe pelas mãos clandestinamente. Cresceu a ler os livros de Walter Scott e muitos outros, sonhando com o dia em que seria arrebatada pelo amor. Charles pede Emma em casamento e a pequena aceita pensando que chegou a hora de viver as aventuras com que sonhou. No entanto depressa cai na rotina, sem nada para fazer, enquanto o marido vai-lhe parecendo cada vez mais grosseiro. O convite para um baile do marquês de Andervilliers marca uma nova etapa na vida de Emma. Começa a seguir atentamente a moda e sonha com uma vida de luxo. Quando a família muda-se Emma está grávida.

Na segunda parte do romance, já em Yonville, o ciclo de amizades do casal Bovary cresce, introduzindo novas personagens: Homais e Lhereux, personagens estas que acompanham o resto da narrativa. Homais é o dono da farmácia, homem de ciência, enquanto Lhereux é um comerciante que em muito contribui para a queda de Emma. Emma entretanto dá à luz a Berthe, a sua filha (personagem que considero mais trágica na obra) e começa a sentir-se atraída por León, um escrevente de advogado. Leon por sua vez não consegue confessar a Emma o seu amor e muda-se para Paris. Após esta partida, Emma apaixona-se por Rodolphe, um homem mulherengo, farto da sua amante, que segundo ele já está a ficar gorda de mais. Tenta conquistar Emma, tarefa nada fácil, mas sendo Rodolphe bastante persuasivo não desiste e até oferece um cavalo para ajudá-la nas suas aulas de equitação. Descontente com a transformação do seu marido, parecendo-lhe cada vez mais desagradável e provinciano, aceita a oferta. Quando se apercebe que tem um amante como nos livros que leu, Emma fica excitada e o seu humor muda. Torna-se mais simpática para todos até para Charles e para a sua filha, que desde o inicio estava entregue aos cuidados de uma ama. Mas esta relação mostra-se tão instável quanto o casamento e Emma várias vezes pensa em deixar o amante. Uma operação mal sucedida de Charles ao pé torto de Hippolyte faz com que Emma regresse aos braços de Rodolphe e pense em fugir. Esta ideia é acolhida falsamente por Rodolphe, concordando de inicio, contudo uma aventura não é um compromisso. Escreve uma carta a explicar que a "fatalidade" encarregar-se-á de destruir aquela bela relação, pois é o destino, pede a seguir para ficarem bons amigos e parte de Yonville. Quando Emma vê a carta desmaia e fica gravemente doente, quase às portas da morte durante um ano. Charles não trabalha para vigiar a sua mulher e as contas dos medicamentos começam a amontoar-se. Quando Emma recupera lentamente, Charles regressa ao seu oficio enquanto a mulher torna-se uma esposa exemplar.

A terceira e última parte representa o desfecho trágico das situações que se vão acumulando ao longo dos capítulos anteriores. Leon regressa a Yonville e encontra-se por acaso com Emma numa peça de teatro. Desiludida e magoada, Emma afasta-se de Leon, mas olhando Charles como um fracassado, rude e Berthe como uma criança feia, Emma aceita a corte de Leon e a partir daí visita-o sempre em Rouen, desconfiada sempre se alguém a visse ou reconhecesse. Também esta relação com o segundo amante acaba por torna-se tão entediante como a do casamento e sem saber ambos caem na rotina e chegam a um ponto em que não se amam, mas também não têm coragem para terminar a relação. As dívidas continuam a acumular-se e saem fora do controlo de Emma até que Lhereux apresenta uma conta de 8 mil francos. Arruinada, Emma recorre a todos para ajudarem-na a pagar pelo menos mil francos, mas todos lhe fecham a porta, ou pedem para se prostituir em troca do dinheiro. Encurralada, despida dos seus bens, toma arsénio e acaba por morrer após todas as tentativas de salvamento por parte de Charles e Homais. O funeral realiza-se com Charles sem ter noção da ruína em que se encontra. Após o enterro Charles cai em desgraça assolado pelas dívidas, até que encontra as cartas que Emma trocara com Rodolphe e acaba por morrer. Berthe ainda criança vai morar com a avó que falece no mesmo ano, sendo depois entregue a uma tia pobre e é forçada a trabalhar numa fábrica.

Apreciações gerais: É um livro bonito. A personagem de Emma é excessiva e emocionalmente desequilibrada. Existe algo no seu íntimo, que leva-nos a simpatizar a sua situação. Talvez seja o facto de sabermos que, de facto, Emma nunca será feliz com o casamento que realizou. Creio que se tivesse casado com alguém de posses, que pudesse, sem objecções providenciar-lhe todo o luxo material para substituir o afecto, Emma conseguiria disfarçar os seus desequilíbrios. Não fora por acaso que este livro tem bastantes parecenças (ou melhor "Sister Carrie" é que é parecido com "Madame Bovary") com Theodor Dreiser com o seu livro "Sister Carrie".

Ambas não conseguem apaixonar-se pelos homens, mas sim pelos bailes e pela vida luxuosa (Emma) ou pela cidade (Sister Carrie). Dei por mim várias vezes a pensar que a vida de Emma até certo ponto deveria de ser um verdadeiro tédio: não podia trabalhar, não tinha qualquer distracção ou companhia para passar os dias. Possivelmente estes dois factores foram fundamentais na apreciação geral da personagem.

Como mencionei acima, não considero Emma uma personagem verdadeiramente trágica. A sua morte foi resultado das suas acções e também do meio. Berthe é a única sobrevivente. É ela que terá sempre na memória os tempos de criança e de luxo que foi habituada, não mencionando a tragédia que é perder a mãe e o pai quase ao mesmo tempo e depois a avó. Berthe, inocente e desprovida de qualquer culpa em relação sistema criado em torno da sua família, acaba por ser a única que paga pelos erros de Emma e Charles. Provavelmente muitas mulheres achem Emma tonta, fútil e supérflua, mas de facto na época em que fora escrito e publicado não se esperava muito mais de uma mulher. Fica um registo positivo do autor.

Friday, March 12, 2010

O acidente

O acidente
(Die Panne)
Friedrich Dürrenmatt
Edição: Europa-América
Páginas: 123




Alfred é um homem com uma vida desafogada que trabalha numa empresa de texteis e que durante uma viagem o seu carro topo de gama avaria. Deambula então por uma aldeia onde encontra uma casa constituída por senhores velhos, reformados da vida politica, cujo hobby é fazer julgamentos fictícios. Trapps janta com eles e aceita tomar parte desta brincadeira, começando por se afirmar inocente, pois até à data não cometera crime nenhum. Os senhores, riem-se e duvidam da sua palavra, escavando até ao mínimo detalhe da sua vida. Aprendem que Trapps fora filho de um operário marxista e que só recentemente conseguiu subir de posição. Lutou por isso toda a vida para ter uma posição favorável. Trapps é casado, tem quatro filhos e a recente morte do patrão fora o principal motivo da sua ascensão. A morte do patrão leva o juiz a entender que Trapps matara-o. No entanto este alega que o senhor morreu de um ataque de coração. A necessidade de um crime e a necessidade de um culpado, leva a que Trapps seja julgado pelas suas acções menos nobres. Trapps é sentenciado à morte ficticiamente pela morte indirecta do patrão.

O labirinto mental, a veracidade das acusações e dos factos, as metáforas bem conseguidas, fazem com que este conto, ainda que pequeno, valha bem a pena ler. Com algumas referencias ao estilo de Kafka e influenciado pelo existencialismo, Friedrich Dürrenmatt foi uma surpresa bastante agradável, proporcionando uma experiência estranha e ao mesmo tempo deliciosa, abandonando o leitor no fim, psicologicamente perturbado.

Thursday, March 11, 2010

Effi Briest

Effi Briest
Theodor Fontane
Páginas: 388
Editora: Difel



Começo a minha "review" concordando com o que Thomas Mann referiu à umas décadas atrás. Uma biblioteca não pode ser considerada completa se na lista de romances não tiver "Effi Briest".
Effi Briest uma jovem de dezassete anos casa com um conselheiro de ministro, o barão Geert Innstetten, de trinta e oito anos. Luise Briest confessa à filha que o barão estava apaixonado por ela quando eram jovens, no entanto Luise decidira casar com outro homem. Effi chocada com o pedido do barão, mas ciente de que este lhe proporcionará uma vida boa aceita casar com ele. A lua-de-mel corre bem e Effi aprende bastantes coisas novas, e Geert demonstra ser um homem afável, que ama e estima muito a sua mulher. Chegados a Kessin, cidade pequena onde irão morar nos próximos tempos, Effi parece não se habituar á nova morada, devido à imagem de um chinês, que lhe aterroriza as noites e só o cão Rollo a consola enquanto o marido parte em negócios. Effi partilha os seus medos, mas Innstetten adverte-a que se continuar a imaginar aquelas histórias, as pessoas da cidade rir-se-iam deles e iriam ser alvo de chacota. Effi é, de uma maneira fria, educada através do marido para se tornar uma mulher madura e adulta. A chegada do major Crampas incide na vida de Effi uma nova etapa. Conhecido por ser popular entre as mulher, um verdadeiro "womaniser" Effi não consegue resistir aos seus encantos e acaba por ter um relacionamento extra-conjugal.

Sei que de facto este livro vem na linha de outros como "Madame Bovary", "Sister Carrie" e "Anne Karenina", visto que estou a ler em paralelo o "Madame Bovary" e já li "Sister Carrie", parece-me que "Effi Briest" talvez pela sua natureza rebelde e juvenil, consegue seduzir o leitor. É um livro que nos fica na memória e tão depressa não desaparece de lá.


Sunday, March 7, 2010

Tim Burton's Alice in Wonderland

Title: Alice in Wonderland
Director: Tim Burton
Release Date: 4th March 2010
Cast:
Johny Depp - Mad Hatter
Mia Wasikowska - Alice
Helena Bonham Carter - The Red Queen
Stephen Fry - Cheshire Cat (voice)
Anne Hathaway - The White Queen



O filme começa ainda com Alice pequenina sonhando constantemente com um "rabbit with a waistcoat" e pensa que está a ficar louca. A aparição dos pais de Alice faz-nos pensar que no original não temos o privilégio de os conhecer nos livros de Lewis Carrol. Sabemos que Alice deve ter pais, mas ela nunca os menciona. Burton preenche sem se aperceber uma lacuna que Carrol deixara, de propósito ou não, isso deixemos para o campo da literatura. Após este flashback, somos levados a conhecer uma Alice na idade adulta, com 19 anos, que continua a ter os sonhos, mas mesmo assim terá de se comportar como uma menina da sua idade agora pronta para casar e assumir responsabilidades da idade adulta. Numa festa onde é esperada por todos, Alice sabe que nesse dia o lorde ... irá pedí-la em casamento. Não preparada para tomar este passo tão importante na sua vida, Alice que durante a festa vê várias vezes um coelho, segue-o até à sua toca onde a queda é tudo menos suave.

Quando resolve beber a famosa garrafa que diz "drink me" Alice comete os mesmo erros de à 13 anos atrás: esquece-se da chave, e tem de comer o biscoito que diz "eat me" para crescer e conseguir pegar na chave que está na mesa. Já em "Wonderland" Alice encontra o White Rabbit, Tweedle Dee e Tweedle Dum na companhia de um valente Doormouse, que a levam ao encontro da Caterpilar, Absalom, para saberem se é esta a verdadeira Alice, de que o oráculo fala.

Como dá para ver pela sinopse breve, de modo a evitar spoilers maiores, "Alice in Wonderland" não é um remake, mais uma sequela ao filme da Disney de 1951, esse sim, segue a maior parte das pisadas dos livros de Lewis Carrol "Alice in Wonderland" e "Through the Looking Glass". No entanto Burton aproxima as personagens para uma esfera mais pessoal, atribuindo nomes pessoais às personagens simplesmente conhecidas pelo seu estatuto ou pelas suas características - O Hatter é mad - a Red Queen é de facto uma queen - o Cheshire Cat é um gato e a Caterpilar é uma centopeia que fuma. Aqui todas as personagens têm nomes próprios, reduzindo drasticamente a carga de identidade. Quando confrontada com a pergunta "Who are you?" desate vez Alice consegue responder mantendo-se firme, no entanto esta Alice de 19 anos não é a mesma. Como o Mad Hatter diz "You have lost your muchness". E assim o é. Alice já não é curiosa, mas sim madura, assustada, com uma maior noção da realidade, que foge dos problemas, cuja escapatória é de facto impossível. O White Rabbit foi desaproveitado, dando lugar ao Mad Hatter, personagem extremamente fascinante, não só no filme mas também nos livros. Mad Hatter conta a Alice tudo o que se passou desde a sua partida de Wonderland, partida esta que Alice não se recorda, e recorda os seus tempos como chapeleiro (onde provavelmente não era louco). O actor Jonhy Depp consegue lançar a sua personagem numa teia de emoções e expressões faciais quase bipolares, passando de um homem atormentado pelo seu passado, para um lunático que está constantemente a beber chá e a criar riddles sem sentido aparente.
O Cheshire Cat conserva também tudo o que uma personagem típica do Tim Burton é: para além de uma aparência maléfica, não conseguimos ficar indiferentes aos seus comportamentos engraçados e por vezes felinos.
O filme não é mau, no entanto talvez devido a uma certa rigidez por ser um filme da Disney destinado a um publico jovem, Burton não teve toda a liberdade para criar um filme potencialmente superior. Os actores são bons, os diálogos por vezes lançam-nos em situações clichés e desde o inicio que sabemos o desfecho da historia. Onde está então a diversão em ver este filme, sendo que o desfecho já é previsível? A maneira como Tim Burton conseguiu mais uma vez criar os cenários caótico ou mesmo num cenário possivelmente belo, existe sempre algo de dark.
Vale a pena ir ver, sem ser em 3D, visto que não me sai da cabeça que este 3D só serve para nos chular mais dinheiro, quando é perfeitamente dispensável. Não é o 3D que salva aquilo, mas como sim os tradicionais actores. Tenho fé que o próximo filme do Tim Burton seja algo típico dele e não uma película onde falta algo. Depois de Sweeney Todd e de Corpse Bride ficamos com a sensação que aqueles filmes que nos levaram a delirar durante as horas que tivemos no cinema, desaparecerem neste.